BOA VISTA (bairro, Recife)
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
De onde surgiu a denominação Boa Vista? Ela teve sua origem no Palácio da Boa Vista (ou Schoonzit, em holandês), que foi construído no Recife por Maurício de Nassau, em 1643, para o seu repouso e lazer. O palácio ficava às margens do rio Capibaribe, na ilha de Antônio Vaz, atual bairro de Santo Antônio e, como apreciava muito a bela paisagem, Nassau assim a designou.
Durante o período da ocupação em Pernambuco (1630-1654), os holandeses construíram também algumas pontes. Uma delas favoreceu o surgimento de uma povoação e das tradicionais ruas Velha, da Matriz e da Glória. Vale registrar que, nesta última, recentemente, foi descoberto o primeiro Cemitério Judeu das Américas, criado durante o período de ocupação batava, e o funcionamento da Sinagoga Kahal Zur Israel, também a primeira das Américas.
No século XIX, quando a Ponte da Boa Vista foi construída, aterraram a área em suas proximidades, fazendo surgir a rua do Aterro, hoje chamada de Imperatriz Tereza Cristina, bem como as ruas da Aurora e Formosa – esta última, atualmente, chamada de avenida Conde da Boa Vista. Posteriormente, outros mangues foram aterrados, dando margem ao surgimento do Ginásio Pernambucano, da Assembléia Legislativa e da Fundição d´Aurora.
No bairro da Boa Vista, encontra-se o tradicional Parque 13 Maio. Até a segunda metade do século XIX, época em que a camboa do Riachuelo foi aterrada, as terras que, atualmente, fazem parte do parque pertenciam à Ilha do Rato, um acidente geográfico flúvio-marinho de contornos incertos. No lado sul da ilha, manguezais e alagados jaziam inaproveitados. Esse terreno era chamado de Passeio Público 13 de Maio. Naquela época, foi elaborado o primeiro projeto para a construção de um parque propriamente dito e, nele, estavam incluídos o espaço do jardim da Faculdade de Direito do Recife, e as terras que vão desta Faculdade até a Ponte Princesa Isabel. Inaugurado em 1939, e medindo 6,9 hectares, o Parque 13 de Maio foi o primeiro parque urbano histórico do Recife. Teve Burle Marx como paisagista. Na década de 1950, uma quarta parte da área do parque foi utilizada pelo Governo para a construção da Biblioteca Pública de Pernambuco, além de quatro escolas públicas.
Antes da II Guerra Mundial, em decorrência do anti-semitismo e das graves perseguições racistas, muitas famílias judias de origem européia migraram para Pernambuco e, de início, vieram morar no bairro da Boa Vista. Situada no coração deste bairro, a Praça Maciel Pinheiro tornou-se o reduto da colônia judaica e o principal fórum de encontros e debates por parte dos imigrantes. Nos bancos e imediações da praça, o que mais se ouvia era o iídiche, língua falada pelos askenazim, os judeus provenientes da Europa Oriental. Apesar de ser pequena, a praça possui uma bela fonte de pedra contendo quatro leões, máscaras, ninfas e uma índia munida de arco e flecha.
A Praça Maciel Pinheiro representa o coração do Recife. Dela, ao mesmo tempo, saem e/ou chegam várias ruas importantes. A primeira delas é a rua Imperatriz Tereza Cristina, onde se concentram lojas comerciais e a Igreja-Matriz da Boa Vista. Outra é a rua do Aragão, local que abriga o comércio de móveis. A rua Manoel Borba é a terceira que sai da Praça. Nela estão muitas óticas e o Hotel Central, o primeiro prédio alto da cidade. No fim daquela rua, chega-se à Praça Chora Menino.
A quarta rua que sai da Praça Maciel Pinheiro é a do Hospício. Em seu número 81, vê-se o Teatro do Parque e, no imóvel de número 130, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, o primeiro instituto histórico regional do Brasil, fundado em 1862. A alguns metros do Teatro do Parque, na rua Martins Júnior número 29, encontra-se a Sinagoga Israelita do Recife, inaugurada em 1926.
A quinta rua que sai da Praça Maciel Pinheiro é a da Conceição, onde se encontram as casas de leilões e a Igreja Rosário da Boa Vista, templo no qual estão os restos mortais de Gervásio Pires e Pereira da Costa. Finalmente, as ruas da Matriz e da Alegria representam a sexta e sétima vias que partem daquele logradouro público. Em uma transversal dessas vias, situa-se a Rosário da Boa Vista, uma rua estreita que desemboca no Pátio de Santa Cruz.
Nesse Pátio, está situada a Igreja de Santa Cruz, concluída entre os anos de 1725 e 1732. Do Pátio da Santa Cruz, também passam muitas ruas importantes. Uma delas é a Barão de São Borja, em cuja esquina se localiza o Centro de Saúde Gouveia de Barros, e onde existia o Cinema Politeama, o Colégio Pedro Augusto e a Escola Oliveira Lima. Do Pátio da Santa Cruz, passa também a Gervásio Pires, uma longa rua onde está o Mercado da Boa Vista. Seguindo-se essa rua, é possível se chegar, por um lado, no bairro dos Coelhos e, por outro, na Avenida Mário Melo, via próxima ao Cemitério de Santo Amaro, já no bairro de Santo Amaro.
Na rua Dom Bosco, que começa na Praça Chora Menino e no final da rua Manoel Borba, foi construído o Cinema Boa Vista, hoje transformado em loja comercial. Pouco mais adiante, encontra-se a rua das Fronteiras, onde está situada a Igreja das Fronteiras, que serviu de residência a Dom Hélder Câmara (1909-1999), arcebispo do Recife e de Olinda.
No bairro da Boa Vista, estão ainda, entre outras, as ruas do Riachuelo, do Progresso, Giriquiti, Barão de São Borja, José de Alencar, o Teatro Valdemar de Oliveira, enfim, tantas vias e logradouros que devem ser apreciados e preservados. Cabe registrar que, segundo a legislação municipal de 1979, o Parque 13 de Maio e a Faculdade de Direito do Recife foram declarados sítios de preservação histórica da chamada Veneza brasileira.
Fontes consultadas:
BRAGA, João. Trilhas do Recife; guia turístico, histórico e cultural. Recife: [s. n.], 2000.
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal, 1998.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos. Diccionario chorografico, histórico e estatístico de Pernambuco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908. 4v.
GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.
KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos perdidos, história recuperada: a presença judaica em Pernambuco. Recife: Edição do Autor, 2000.
RIBEMBOIM, José Alexandre; MENEZES, José Luiz Mota. O primeiro cemitério judeu das Américas. Recife: Civitate/Bagaço, 2005.
SILVA, Jorge Fernandes da. Vidas que não morrem. Recife: Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, 1982.
ZISMAN, Meraldo. Jacob da Balalaica. Recife: Bagaço, 1998.
VAINSENCHER, Semira Adler. Praça Maciel Pinheiro. Disponível em:
http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=312&textCode=840&date=currentDate Acesso em: 22 ago. 2009.
__________. Igreja Matriz da Boa Vista. Disponível em:
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