O surgimento da Venerável Ordem Terceira de São Francisco das Chagas data do século XVI. Os Irmãos Terceiros eram mascates, em sua grande maioria, e alguns deles bastante abastados, como Antônio Fernandes de Matos. Naquele período, os franciscanos iniciaram a construção da Capela dos Noviços da Ordem Terceira do Recife.
Tudo indica que o autor de nove dos grandes painéis do templo, que representam os santos da Ordem Terceira, além de oito painéis menores, parece ter sido o famoso pintor José Pinhão de Matos.
Recebendo acréscimos aos poucos, a antiga capela obteve a contribuição de artistas famosos e se transformou no maior símbolo da arte sacra barroca: a atual Capela Dourada da Ordem Terceira de São Francisco do Recife.
Os trabalhos empreendidos no altar-mor, nos seis altares, nas portas, no púlpito, nas duas cornijas do interior, no forro e no emulduramento das pinturas, são de estilo barroco, muito em voga em Portugal e no Brasil no século XVII.
Por sua vez, a alcunha de dourada deve-se ao fato de, cada centímetro do seu interior, se encontrar revestido por magníficas talhas de cedro, cobertas por finas lâminas de ouro de 22 quilates. O templo foi construído no ápice do poderio econômico de três elementos tradicionais da Região Nordeste: os senhores de engenho, os representantes da nobreza e as ricas irmandades.
Datada do século XVIII, a Capela está situada na rua do Imperador Pedro II, no bairro de Santo Antônio, bem perto da Praça da República. A sua beleza, por sua vez, vem atraindo muitos visitantes brasileiros e estrangeiros ao Recife, entre eles historiadores e pintores.
Uma série de artistas importantes, a maior parte originária do Estado de Pernambuco, trabalhou no templo. Dentre eles estão João Vital Correia (em 1864), que foi o responsável pelos frontais de madeira e pintura da Capela dos Noviços; Manuel de Jesus Pinto (em 1799), que empreendeu a douração da capela e do arco de fora; e José Ribeiro de Vasconcelos (entre 1759 e 1761) que pintou dois painéis e dois caixilhos para os santos.
Além disso, os serviços do mestre Luís Machado foram contratados para a edificação do arco da capela-mor, do cruzeiro, do grande arco para o convento, e dos móveis da sacristia, tudo isso em jacarandá.
O mestre português Antônio Martins Santiago, por outro lado, foi contratado para a confecção da talha da capela-mor, com dois nichos para as imagens de São Cosme e São Damião (existentes no antigo altar do convento, no século XVII), bem como de mais um sacrário e um frontal, entre outros elementos. Nos altares laterais, é possível se apreciar um painel retratando os Mártires do Marrocos, São Cosme e Santa Isabel, e a imagem do Cristo Atado (com incrustações em rubi).
Segundo a opinião de especialistas, cabe registrar que a disposição do púlpito e os motivos das talhas se assemelham aos existentes na Igreja de Santo Antônio de Faro, situada na região do Algarve, ao sul de Portugal.
A Capela Dourada encontra-se bem ornamentada, possuindo um interior bem conservado, em grande estilo barroco-rococó. O seu altar-mor se apresenta todo construído em talhas douradas, contendo belas imagens, como a do Cristo Crucificado; o seu forro é revestido por pinturas artísticas, em caixotões. No altar-mor observa-se um retábulo em arco cruzeiro e colunas salomônicas, entrelaçados por folhas de parreiras. Foi executado por Antônio Martins Santiago, em 1698.
Uma bela seqüência de flores e frutos que se torcem sobem as pilastras dos altares, ocupando os triângulos do dorso externo dos arcos. Ao longo do emulduramento das portas, as formas sugerem girassóis. Uma grande flor muito estilizada encontra-se nos painéis do púlpito.
Nas paredes laterais, pode-se observar dois longos painéis: no primeiro, os mártires franciscanos sendo presos e, no segundo, eles sendo crucificados. Além desses quadros, porém, existem outras telas, emolduradas em talhas douradas, que merecem ser apreciadas. Há duas fileiras de assentos, inclusive, que foram produzidos e trabalhados em jacarandá.
O claustro do convento está dividido em duas partes distintas, sendo a inferior a de maior riqueza artística, comportando arcos romanos, um piso original, e uma bonita capela, contendo uma porta torneada, que faz rememorar a austeridade da clausura franciscana.
Nas paredes claustrais, encontram-se 27 quadros de azulejos que mostram vários episódios do Gênese, a criação do mundo. Esses azulejos, que foram trazidos de Lisboa e afixados no ano de 1704, formam uma barra ao longo da parte baixa do interior do templo. São assinados por Antônio Pereira.
A Capela Dourada apresenta, ainda, dezenas de painéis de diverso (a)s santo (a)s: São Pedro, São Jerônimo, Santa Joana de Cruz, Santa Adriana, São Luís, Santa Margarida de Cortona, Santa Lusia Danúrcia, Santa Veridiana, São Torrelo, São Ricardo, entre outros. Também foram retratados em painéis a Fé, a Esperança, a Caridade e a Constância.
Na sacristia, está presente todo um mobiliário (cômodas e repositórios) em jacarandá, feito em 1762, além de uma mesa de mármore e de um lavabo que foram importados da cidade portuguesa de Estremoz.
Fontes consultadas:
BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco: guia aos monumentos históricos de Olinda e Recife. São Paulo: Fundo Educativo Brasileiro, 1983.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco. Recife: Ed. do Autor, 2002.
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