CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (Jaqueira, Recife)
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Também chamada de Capelinha da Jaqueira, a capela de Nossa Senhora da Conceição fica situada próximo à Ponte D'Uchôa, no atual Parque da Jaqueira. Ela era a capela do solar de Bento José da Costa. E, como naquele terreno existiam muitas jaqueiras, o local ficou sendo chamado de Sítio das Jaqueiras.
A capelinha, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, remonta ao início do século XVIII, época em que o proprietário daquelas terras era o capitão Henrique Martins. Antes dele, o terreno pertencera ao antigo senhor do engenho da Torre, Antônio Borges Uchôa, o mesmo que construiu uma ponte sobre o rio Capibaribe, a chamada Ponte D'Uchôa, ligando o seu engenho àquelas terras.
Henrique Martins e a esposa eram grandes devotos da Virgem da Conceição. Há registros de que, em certa ocasião, ele foi acometido por uma crise de erisipela e recorreu à sua padroeira, para que lhe devolvesse a saúde. Tendo o capitão se restabelecido, ele e a esposa manifestaram gratidão depositando um ex-voto junto à milagrosa: uma gravura onde se vê Henrique Martins deitado, coberto por uma colcha de ramagens vermelhas e azuis, com a esposa e o médico à sua volta e, na cabeceira, uma visão da Virgem.
Além disso, no dia 8 de janeiro de 1766, o casal doou um terno (moenda de engenho de açúcar) avaliado em vinte mil réis, para que fosse levantada uma capelinha para a Virgem. Dessa maneira, como o local era chamado de Sítio das Jaqueiras, a capela ficou conhecida pela população como Capela da Jaqueira, nome que conserva até hoje.
Em 1782, os bens do capitão Henrique - incluindo o Sítio das Jaqueiras -, foram leiloados, por causa do seu envolvimento em um processo de desfalque. O Sítio foi arrematado por Domingos Afonso Ferreira, mas, no século XIX, já pertencia ao português Bento José da Costa, o homem mais abastado do Recife.
Registra a história que Domingos Afonso Ferreira se apaixonou por Maria Teodora, filha de Bento José da Costa e que, a este comerciante, pediu a mão da filha em casamento. Domingos Afonso teve seu pedido negado, uma vez que, naquela época, a escolha do futuro genro dependia, tão-somente, da preferência do pai da pretendida.
No entanto, após a revolução de 1817, Domingos Afonso Ferreira, como herói da revolução e vencedor, impôs a sua escolha e, em uma grande festa, casou-se com Maria Teodora na Capela da Jaqueira.
Bento José da Costa, por sua vez, além de comerciante era, ainda, coronel de milícias e comandante de um corpo de guarnição do Recife. Era muito amigo, inclusive, do último administrador português de Pernambuco: o capitão-general Luís do Rêgo Barreto. Juntamente com esse governador, como membro da Junta Constitucional Governativa, Bento compôs o Governo da Capitania em 1821.
Os restos mortais do comerciante estão enterrados por baixo do altar-mor da Capela, onde, em grandes letras, pode-se ler:
Aqui jaz o coronel
BENTO JOSÉ DA COSTA
Falecido em 10 de fevereiro
de
1834
na edade de 75 anos
a cuja memória dedicão este monumento
sua saudoza esposa e seus onze filhos.
Os herdeiros de Bento José, sem o menor cuidado pela propriedade herdada, deixaram que as jaqueiras centenárias fossem derrubadas, e que o Sítio das Jaqueiras se transformasse em um campo de futebol. Quando este foi fechado, a terra foi loteada, e a Capela da Jaqueira permaneceu abandonada em meio a um grande matagal.
Ela só não foi totalmente destruída, devido à intervenção, em 1944, do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Na ocasião, o templo foi restaurado e construíram, em sua volta, um belo parque: o da Jaqueira.
Sob a gestão do prefeito José do Rego Maciel, o famoso paisagista Roberto Burle-Marx projetou o ajardinamento da localidade. Vale registrar que, mesmo depois de tombada pelo IPHAN, a Capela foi saqueada em 1951 e vários de seus pertences foram roubados: dois armários em jacarandá trabalhado (da sacristia), e algumas portas e janelas.
A Capela da Jaqueira é uma construção barroca. O seu interior é decorado com azulejos raros, do mesmo estilo dos azulejos dos conventos carmelitas e franciscanos. Podem ser apreciados alguns notáveis painéis sacros, de traçados e cores fortes, que o tempo não conseguiu apagar. Os forros da capela-mor (evocando a Anunciação), do coro (focalizando o casal Nossa Senhora e São José) e da nave (a efígie da Padroeira) possuem pinturas significativas do final do século XVIII.
É possível observar, também, dois grandes retratos a óleo, sobre madeira, representando Santo Antônio e São Henrique, bem como São João Batista e São Filipe Nery. O altar do templo é barroco, embora apresente alguns motivos em estilo rococó. Existe um manuscrito na capela-mor, datado de 13 de novembro de 1781, que contém a tradução de um Breve de Indulgência do Papa Pio VI.
Na sacristia encontra-se uma relíquia: um lavatório de pedra, com uma torneira longa, feita em bronze, uma obra do século XVIII. As imagens do templo - aquelas que escaparam ao furto e à depredação - estão guardadas na Igreja de São José do Manguinho.
É importante salientar que as telhas da Capela, suas madeiras, fechaduras, aldrabas, ferrolhos, dobradiças, entre outros objetos que foram confeccionados em ferro e bronze, são originais de sua construção e datados de 1766. E que, até os anos 1960, o parque existente em volta da capela era todo iluminado por lampiões, pendurados em postes ingleses.
Fontes consultadas:
A capelinha, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, remonta ao início do século XVIII, época em que o proprietário daquelas terras era o capitão Henrique Martins. Antes dele, o terreno pertencera ao antigo senhor do engenho da Torre, Antônio Borges Uchôa, o mesmo que construiu uma ponte sobre o rio Capibaribe, a chamada Ponte D'Uchôa, ligando o seu engenho àquelas terras.
Henrique Martins e a esposa eram grandes devotos da Virgem da Conceição. Há registros de que, em certa ocasião, ele foi acometido por uma crise de erisipela e recorreu à sua padroeira, para que lhe devolvesse a saúde. Tendo o capitão se restabelecido, ele e a esposa manifestaram gratidão depositando um ex-voto junto à milagrosa: uma gravura onde se vê Henrique Martins deitado, coberto por uma colcha de ramagens vermelhas e azuis, com a esposa e o médico à sua volta e, na cabeceira, uma visão da Virgem.
Além disso, no dia 8 de janeiro de 1766, o casal doou um terno (moenda de engenho de açúcar) avaliado em vinte mil réis, para que fosse levantada uma capelinha para a Virgem. Dessa maneira, como o local era chamado de Sítio das Jaqueiras, a capela ficou conhecida pela população como Capela da Jaqueira, nome que conserva até hoje.
Em 1782, os bens do capitão Henrique - incluindo o Sítio das Jaqueiras -, foram leiloados, por causa do seu envolvimento em um processo de desfalque. O Sítio foi arrematado por Domingos Afonso Ferreira, mas, no século XIX, já pertencia ao português Bento José da Costa, o homem mais abastado do Recife.
Registra a história que Domingos Afonso Ferreira se apaixonou por Maria Teodora, filha de Bento José da Costa e que, a este comerciante, pediu a mão da filha em casamento. Domingos Afonso teve seu pedido negado, uma vez que, naquela época, a escolha do futuro genro dependia, tão-somente, da preferência do pai da pretendida.
No entanto, após a revolução de 1817, Domingos Afonso Ferreira, como herói da revolução e vencedor, impôs a sua escolha e, em uma grande festa, casou-se com Maria Teodora na Capela da Jaqueira.
Bento José da Costa, por sua vez, além de comerciante era, ainda, coronel de milícias e comandante de um corpo de guarnição do Recife. Era muito amigo, inclusive, do último administrador português de Pernambuco: o capitão-general Luís do Rêgo Barreto. Juntamente com esse governador, como membro da Junta Constitucional Governativa, Bento compôs o Governo da Capitania em 1821.
Os restos mortais do comerciante estão enterrados por baixo do altar-mor da Capela, onde, em grandes letras, pode-se ler:
Aqui jaz o coronel
BENTO JOSÉ DA COSTA
Falecido em 10 de fevereiro
de
1834
na edade de 75 anos
a cuja memória dedicão este monumento
sua saudoza esposa e seus onze filhos.
Os herdeiros de Bento José, sem o menor cuidado pela propriedade herdada, deixaram que as jaqueiras centenárias fossem derrubadas, e que o Sítio das Jaqueiras se transformasse em um campo de futebol. Quando este foi fechado, a terra foi loteada, e a Capela da Jaqueira permaneceu abandonada em meio a um grande matagal.
Ela só não foi totalmente destruída, devido à intervenção, em 1944, do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Na ocasião, o templo foi restaurado e construíram, em sua volta, um belo parque: o da Jaqueira.
Sob a gestão do prefeito José do Rego Maciel, o famoso paisagista Roberto Burle-Marx projetou o ajardinamento da localidade. Vale registrar que, mesmo depois de tombada pelo IPHAN, a Capela foi saqueada em 1951 e vários de seus pertences foram roubados: dois armários em jacarandá trabalhado (da sacristia), e algumas portas e janelas.
A Capela da Jaqueira é uma construção barroca. O seu interior é decorado com azulejos raros, do mesmo estilo dos azulejos dos conventos carmelitas e franciscanos. Podem ser apreciados alguns notáveis painéis sacros, de traçados e cores fortes, que o tempo não conseguiu apagar. Os forros da capela-mor (evocando a Anunciação), do coro (focalizando o casal Nossa Senhora e São José) e da nave (a efígie da Padroeira) possuem pinturas significativas do final do século XVIII.
É possível observar, também, dois grandes retratos a óleo, sobre madeira, representando Santo Antônio e São Henrique, bem como São João Batista e São Filipe Nery. O altar do templo é barroco, embora apresente alguns motivos em estilo rococó. Existe um manuscrito na capela-mor, datado de 13 de novembro de 1781, que contém a tradução de um Breve de Indulgência do Papa Pio VI.
Na sacristia encontra-se uma relíquia: um lavatório de pedra, com uma torneira longa, feita em bronze, uma obra do século XVIII. As imagens do templo - aquelas que escaparam ao furto e à depredação - estão guardadas na Igreja de São José do Manguinho.
É importante salientar que as telhas da Capela, suas madeiras, fechaduras, aldrabas, ferrolhos, dobradiças, entre outros objetos que foram confeccionados em ferro e bronze, são originais de sua construção e datados de 1766. E que, até os anos 1960, o parque existente em volta da capela era todo iluminado por lampiões, pendurados em postes ingleses.
Fontes consultadas:
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. 2. ed. rev. e ampl. Recife: Fundação Guararapes, 1970.
Nenhum comentário:
Postar um comentário