CHORA MENINO (localidade e praça, Recife)
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
O rico colono João Velho Barreto, no começo do século XVII, possuía uma grande extensão de terras que adquire o nome de Mondego. Essa denominação, com certeza, deve ter sido colocada por um dos colonizadores lusos, ao relembrar os campos do Mondego em Portugal. Uma descrição do referido local foi feita por Luís de Camões, em os Lusíadas, quando o poeta versejou sobre os belos campos do Mondego, no episódio da morte de Dona Inês de Castro.
As terras do Mondego pertenciam, originariamente, à Estância de Henrique Dias, situando-se além e aquém do sítio do Mondego, no lugar Salinas, da freguesia da Sé de Olinda.
Outra referência antiga ao sítio do Mondego, diz respeito a uma estrada de largura regular, aberta em linha reta, cujo primeiro trecho é designado de Rua do Mondego. Lá é construído um prédio grande e imponente, com dois pavimentos. Por iniciativa da proprietária das terras - Dona Ana Maria dos Anjos -, ergue-se uma capela naquela estrada, sob a invocação da Sacra Família e de São João. As obras de construção da capela começam em 1755, porém são finalizadas em 1888.
Por ter servido de residência temporária do governador pernambucano - o general Luís do Rego Barreto (1817-1821) -, as pessoas apelidaram aquele prédio de Palácio do Mondego. Defronte deste palácio, havia um sítio murado, que dava saída para a Trempe da Soledade. Em 1818, no muro rebocado e caiado do referido sítio, aparecem escritas sete palavras:
Tem cautela, Rego
Não passes do Mondego...
Corre a notícia, então, que dois indivíduos esperavam uma boa oportunidade para atirar no general governador. Hoje, sabe-se que tal ameaça estava relacionada à reação dos revolucionários de 1817, contra Luís do Rego Barreto.
O ano de 1831 trouxe muitas comoções políticas, tanto para o Estado de Pernambuco quanto para o País. No Recife, ocorre a histórica Setembrizada, empreendida por soldados insubordinados, que arrombam, saqueiam e cometem inúmeras atrocidades em casas particulares e estabelecimentos comerciais.
As lutas duram três dias (14, 15 e 16 de setembro de 1831), deixam um grande número de mortos, mas os indisciplinados são vencidos. Segundo Gilberto Freyre documenta, durante o saque ao Recife correu muito sangue, e os soldados não faziam a menor cerimônia em matar e roubar.
As vítimas, que foram bastante numerosas, ganharam sepulturas fora dos limites da cidade: no sítio do Mondego. A partir de então, as pessoas começaram a falar que o lugar havia se tornado mal-assombrado. Talvez porque havia sido enterrado, ali, um grande contingente de vítimas.
Pode-se perceber, através desse episódio, como um fato verídico acabou se transformando em lenda, por intermédio da imaginação popular. Espalhou-se a seguinte estória: durante a noite, quem passasse por aquele sítio, ouvia um choro de menino.
Assim, após a revolta Setembrizada, em 1831, a região torna-se conhecida como Chora Menino. O local em questão ficava na divisa das freguesias da Boa Vista e das Graças (na estrada que se dirigia para a antiga Passagem da Madalena).
Em 1843, surge um periódico no Recife chamado de Chora Menino. Um trecho do primeiro número, saído no dia 29 de maio, dizia o seguinte:
O Chora-Menino tem por objeto a recordação das artimanhas e traições dos fingidos liberais, desses que tem sido a causa de intempestivas revoluções, dando lugar a se derramar o sangue brasileiro, a despeito de todas as leis divinas e humanas, bem como aconteceu no lugar acima citado, d’onde esse periódico deriva o seu título...
Duas outras informações sobre a localidade: a Estrada do Mondego passou a se chamar Rua Visconde de Goiana; e o Palácio do Mondego funcionou como o Colégio dos Padres Salesianos.
Talvez para ficar na lembrança dos pernambucanos, designou-se como Praça Chora Menino, no Paissandu, um pedacinho de terra que pertenceu ao sítio do Mondego. Uma litografia elaborada por Luis Schlappriz, em 1863, documenta os trajes e os tipos da época naquela Praça.
Hoje, o pedaço de terra chamado, originariamente, de Chora Menino, encontra-se no perímetro urbano do Recife. Ele faz parte de uma via pública importante - a Rua Paissandu - pela qual circulam muitos transeuntes. Pode-se perceber, então, que o local, hoje, não mete medo em mais ninguém.
Fontes consultadas:
COSTA, F. A. Pereira da. Arredores do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981.
________. Arredores do Recife. Recife: Editora Massangana, 2001.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
As terras do Mondego pertenciam, originariamente, à Estância de Henrique Dias, situando-se além e aquém do sítio do Mondego, no lugar Salinas, da freguesia da Sé de Olinda.
Outra referência antiga ao sítio do Mondego, diz respeito a uma estrada de largura regular, aberta em linha reta, cujo primeiro trecho é designado de Rua do Mondego. Lá é construído um prédio grande e imponente, com dois pavimentos. Por iniciativa da proprietária das terras - Dona Ana Maria dos Anjos -, ergue-se uma capela naquela estrada, sob a invocação da Sacra Família e de São João. As obras de construção da capela começam em 1755, porém são finalizadas em 1888.
Por ter servido de residência temporária do governador pernambucano - o general Luís do Rego Barreto (1817-1821) -, as pessoas apelidaram aquele prédio de Palácio do Mondego. Defronte deste palácio, havia um sítio murado, que dava saída para a Trempe da Soledade. Em 1818, no muro rebocado e caiado do referido sítio, aparecem escritas sete palavras:
Tem cautela, Rego
Não passes do Mondego...
Corre a notícia, então, que dois indivíduos esperavam uma boa oportunidade para atirar no general governador. Hoje, sabe-se que tal ameaça estava relacionada à reação dos revolucionários de 1817, contra Luís do Rego Barreto.
O ano de 1831 trouxe muitas comoções políticas, tanto para o Estado de Pernambuco quanto para o País. No Recife, ocorre a histórica Setembrizada, empreendida por soldados insubordinados, que arrombam, saqueiam e cometem inúmeras atrocidades em casas particulares e estabelecimentos comerciais.
As lutas duram três dias (14, 15 e 16 de setembro de 1831), deixam um grande número de mortos, mas os indisciplinados são vencidos. Segundo Gilberto Freyre documenta, durante o saque ao Recife correu muito sangue, e os soldados não faziam a menor cerimônia em matar e roubar.
As vítimas, que foram bastante numerosas, ganharam sepulturas fora dos limites da cidade: no sítio do Mondego. A partir de então, as pessoas começaram a falar que o lugar havia se tornado mal-assombrado. Talvez porque havia sido enterrado, ali, um grande contingente de vítimas.
Pode-se perceber, através desse episódio, como um fato verídico acabou se transformando em lenda, por intermédio da imaginação popular. Espalhou-se a seguinte estória: durante a noite, quem passasse por aquele sítio, ouvia um choro de menino.
Assim, após a revolta Setembrizada, em 1831, a região torna-se conhecida como Chora Menino. O local em questão ficava na divisa das freguesias da Boa Vista e das Graças (na estrada que se dirigia para a antiga Passagem da Madalena).
Em 1843, surge um periódico no Recife chamado de Chora Menino. Um trecho do primeiro número, saído no dia 29 de maio, dizia o seguinte:
O Chora-Menino tem por objeto a recordação das artimanhas e traições dos fingidos liberais, desses que tem sido a causa de intempestivas revoluções, dando lugar a se derramar o sangue brasileiro, a despeito de todas as leis divinas e humanas, bem como aconteceu no lugar acima citado, d’onde esse periódico deriva o seu título...
Duas outras informações sobre a localidade: a Estrada do Mondego passou a se chamar Rua Visconde de Goiana; e o Palácio do Mondego funcionou como o Colégio dos Padres Salesianos.
Talvez para ficar na lembrança dos pernambucanos, designou-se como Praça Chora Menino, no Paissandu, um pedacinho de terra que pertenceu ao sítio do Mondego. Uma litografia elaborada por Luis Schlappriz, em 1863, documenta os trajes e os tipos da época naquela Praça.
Hoje, o pedaço de terra chamado, originariamente, de Chora Menino, encontra-se no perímetro urbano do Recife. Ele faz parte de uma via pública importante - a Rua Paissandu - pela qual circulam muitos transeuntes. Pode-se perceber, então, que o local, hoje, não mete medo em mais ninguém.
Fontes consultadas:
COSTA, F. A. Pereira da. Arredores do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981.
________. Arredores do Recife. Recife: Editora Massangana, 2001.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
FREYRE, Gilberto. Tempo de aprendiz - artigos publicados em jornais na adolescência e na primeira mocidade do autor: 1918-1926. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL, 1979.v. 2.
GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos. Diccionario chronografico, histórico e estatístico. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908.
SEM o estatus de bairro. Jornal do Commercio, Recife, 19 de fev. 2000. Caderno Cidades, p. 5.