domingo, 17 de maio de 2009

COCO

COCO
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Uns dizem que o coqueiro (cocos nucifera L.) é originário da Índia e, outros, que ele veio da Ilha de Cabo Verde. Seja como for, a planta foi trazida pelos navegadores e cultivada em solo africano, sendo hoje encontrado em, praticamente, todos os países de clima tropical. No Brasil, o coco foi introduzido no século XVI, pelos colonizadores portugueses. Entre seus maiores produtores, encontram-se as Filipinas, a Índia e a Indonésia.

O coqueiro - cartão postal do Nordeste do Brasil - se adaptou muito bem à orla marítima e, há séculos, vem enfeitando as praias da Região. Essa espécie de palmeira pode atingir uma altura de trinta metros; mas, existem variedades de coqueiro-anão - introduzidas em 1921 - que não ultrapassam três metros de altura. O país cultiva em torno de cinquenta mil hectares de coqueiro-anão, e os Estados que mais o produzem são o Espírito Santo (com cerca de quatorze mil hectares de terras plantadas), seguindo-se a Bahia (com doze mil hectares), e o Ceará (com cinco mil hectares).

A casca do coco é relativamente fina e lisa. Por debaixo dela, encontra-se uma espessa capa fibrosa, que envolve uma camada muito dura e, dentro dela, existe uma parte suculenta de cor branca. Quando está verde, o coco contém bastante água em seu interior, e a camada branca é mole e pouco desenvolvida. À medida que vai amadurecendo a parte carnosa se torna mais espessa e consistente, e a quantidade de água diminui.

O coco contém proteínas, magnésio, gorduras, sais minerais - potássio, sódio, fósforo e cloro - hidratos de carbono e as vitaminas A, B1, B2, B5 e C. Seus efeitos curativos se devem, principalmente, ao magnésio, substância que o ser humano necessita para conservar a tensão muscular. Cem gramas de coco maduro equivalem a duzentas e sessenta e seis calorias. Por sua vez, o consumo do coco maduro é contra indicado para pessoas que apresentam uma elevada taxa de colesterol no sangue.

O leite de coco é um dos subprodutos mais conhecidos e utilizados, mas, só pode ser extraído quando o coco está maduro. Para retirá-lo, basta quebrar a casca, soltar a camada interna (branca), adicionar-lhe um pouco de água, bater tudo no liquidificador e, em seguida, coar a mistura. O líquido resultante é o leite de coco. Nos lugares onde não há energia elétrica, as pessoas retiram a massa do coco com um raspador, adicionam um pouco de água, colocam a mistura dentro de um pano e, em seguida, torcem-no, para liberar o leite, separando-o do bagaço.

Do coqueiro, nada se perde. Da polpa branca do fruto, as indústrias alimentícias extraem um óleo, e fabricam, também, manteigas e margarinas. O coco é usado, ainda, pela indústria de cosméticos. As folhas do coqueiro servem para cobrir os telhados das casas. O artesanato nordestino utiliza as fibras do fruto e das folhas para a fabricação de cordas, tapetes, redes, vassouras, escovas e outros produtos, tais como cestos, esteiras e chapéus. Do endocarpo do coco (casca dura) confeccionam-se inúmeros utensílios e ornamentos, a exemplo de colheres, cintos, brincos, colares, porta-canetas, pulseiras, descansa-pratos, entre outros. O tronco do coqueiro, além de ser usado na construção de casas rústicas, é utilizado pelos artesãos na fabricação de esculturas, arranjos de plantas, e móveis, que são comercializados em lojas e feiras populares. Do coqueiro são fabricados, ainda, redes e linhas de pesca, cordoalhas, sacos e broxas. A palmeira é utilizada, inclusive, como planta ornamental, embelezando casas, parques e jardins.

A seiva proveniente dos pedúnculos pode ser ingerida ao natural, como um refresco; pode, também, através da fermentação, ser transformada em bebida alcoólica, álcool ou vinagre, e, ainda, ser utilizada na extração de açúcar. As raízes do coco servem para fabricar fortificantes para as gengivas, antitóxicos e produtos antidiarréicos e antiblenorrágicos; e, do broto, retira-se o palmito.

A fibra do fruto é utilizada, inclusive, pela indústria automobilística, para o enchimento do estofamento dos assentos dos veículos.

No poema musical Coqueiro de Itapoã, o compositor baiano Dorival Caymmi imortalizou essa planta. A letra da música é a seguinte:

Coqueiro de Itapoã, coqueiro...
Areia de Itapoã, areia...
Morena de Itapoã, morena...
Saudade de Itapoã, me deixa...

Oh vento que faz cantiga nas folhas
No alto dos coqueirais,
Oh vento que ondula as águas,
Eu nunca tive saudade igual...
Me traga boas notícias daquela terra toda manhã
E joga uma flor no colo de uma morena de Itapoã.

Coqueiro de Itapoã, coqueiro...
Areia de Itapoã, areia...
Morena de Itapoã, morena...
Saudade de Itapoã, me deixa...

No Brasil, o leite de coco logo se associou ao milho, à farinha, ao xerém, à goma de mandioca, aos molhos, pudins, cremes, mingaus e papas. Da associação do coco e do milho são feitos vários quitutes e manjares originados dos deuses africanos e indígenas.

A cocada - uma iguaria produzida com açúcar e com a parte branca ralada do coco maduro (levados ao fogo) - veio enriquecer a culinária brasileira. Hoje em dia, são feitas: cocada preta, cocada com leite condensado, gema, óleo de oliva, cenoura, glucose de milho, batata-de-umbu, e muitos outros. A tapioca de coco, estendida em folha de bananeira e polvilhada com canela, representa uma das heranças indígenas. O coco é fundamental na culinária junina, sendo utilizado em receitas de canjica, pamonha, pé-de-moleque, além dos bolos de mandioca, Souza Leão, e de macaxeira (também chamado de aipim). Ainda é usado no mungunzá e no cuscuz. O leite de coco está sempre presente em vatapás, peixadas, crustáceos ensopados - camarão, polvo, lula, sururu, unha-de-velho, casquinha de siri -, caranguejadas, mariscadas, cozidos de bredo, arroz de viúva e feijão. E, no preparo de uma deliciosa maxixada, esse ingrediente não pode faltar.

Por fim, cabe falar da água do coco verde, uma bebida deliciosa, refrescante, nutritiva e terapêutica, que possui uma composição físico-química semelhante à do soro fisiológico. São inúmeros os seus benefícios: ela hidrata e amacia a pele, reduz a febre, funciona como complemento alimentar, combate a prisão de ventre e atenua os enjôos. Como é rica em sais de potássio, atua ainda como diurético, sendo indicada em casos de diarréia, vômito e desidratação. Cem gramas de água de coco contêm vinte e duas calorias.

Nos últimos anos, devido à grande demanda dessa bebida, o Estado de São Paulo vem substituindo parte das tradicionais culturas de café e de laranja por plantações de coqueiro-anão. Atualmente, pode-se encontrar, inclusive, a água de coco industrializada em supermercados brasileiros e estrangeiros. As indústrias também comercializam o coco ralado e o leite de coco (em garrafas pequenas ou caixinhas).


Fontes consultadas:

ARAÚJO, Alceu Maynard. Brasil folclore: histórias, costumes e lendas. São Paulo: Editora Três, 1982.

BOSISIO, Arthur (Coord.) et al. Culinária nordestina: encontro de mar e sertão. Rio de Janeiro: Editora Senac Nacional, 2001.

CARPEGGIANI, Schneider. Acorda São João! Diário Oficial do Estado de Pernambuco, Suplemento Cultural, Recife, ano 15, p.3-4, jun. 2001.

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1954.

CASCUDO, Luís da Câmara. Lendas brasileiras: 21 histórias criadas pela imaginação do nosso povo. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, [19--?].

COCO. Disponível em: Acesso em: 19 jun. 2007.

COCO. Disponível em: Acesso em: 19 jun. 2007.

COCO. Disponível em: Acesso em: 19 jun. 2007.

CORRÊA, Manuel Pio. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926-1978.

COQUEIRO de Itapoã letra. Disponível em: Acesso em: 9 dez. 2008.

FREYRE, Gilberto. Açúcar. 2. ed. Rio de Janeiro: Ministério da Indústria e Comércio, 1969.

HORTA, Carlos Felipe de M. (Coord.). O grande livro do folclore. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2000.

LIMA, Claudia. Tachos e panelas: historiografia da alimentação brasileira. Recife: Edição da Autora, 1999.

PEIXOTO, Augusto Rodrigues. Plantas oleaginosas arbóreas. São Paulo: Nobel, 1973.

RIBEIRO, José. Brasil no folclore. Rio de Janeiro: Editora Aurora, 1970.

SOUTO MAIOR, Mário. Comes e bebes do Nordeste. Recife: Fundaj, Editora Massangana, 1984.

SOUTO MAIOR, Mário. Alimentação e folclore. Rio de Janeiro: Funarte, Instituto Nacional do Folclore, 1988.

VAINSENCHER, Semira Adler. Cocada. Disponível em: Acesso em: 15 dez. 2008.

VAINSENCHER, Semira Adler. Culinária brasileira. Disponível em: Acesso em: 20 nov. 2008.

VAINSENCHER, Semira Adler. Culinária junina. Disponível em: Acesso em: 14 dez. 2008.

VAINSENCHER, Semira Adler. Mandioca. Disponível em: Acesso em: 21 nov. 2008.

VAINSENCHER, Semira Adler. Tapioca. Disponível em: Acesso em: 21 nov. 2008.


Nenhum comentário:

Postar um comentário