IGREJA DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES DOS MONTES GUARARAPES
(Jaboatão dos Guararapes, PE)
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
A Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes foi construída nas primeiras décadas do século XVII, nas terras doadas pelo capitão Alexandre Moura, o proprietário do Engenho Guararapes, no atual município de Jaboatão dos Guararapes.
No topo daquelas terras, nos anos de 1648 e 1649, os luso-brasileiros comandados por João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Filipe Camarão e Antônio da Silva travaram as batalhas decisivas contra os holandeses. Na primeira, os últimos tiveram um saldo de 523 feridos, além de 515 pessoas mortas ou prisioneiras (das quais, 46 oficiais do exército); e os luso-brasileiros perderam 84 homens e ficaram com mais de 400 feridos.
Na segunda batalha, 3.510 flamengos, comandados pelo tenente-general Johan van den Brincken, foram derrotados por 2.600 homens luso-brasileiros, comandados pelo general Francisco Barreto de Menezes. Desta feita, os luso-brasileiros tiveram 47 mortos e 200 feridos e, os holandeses, perderam 1.044 vidas e ficaram com 500 feridos. Cinco anos depois disso, em 1654, os batavos abandonariam para sempre o Nordeste do Brasil.
Agradecendo à vitória conseguida, o general Francisco Barreto de Menezes solicitou a construção de uma pequena capela, dentro da própria Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes, em louvor à Nossa Senhora dos Prazeres.
Entre os anos de 1676 e 1680, seguindo um projeto de frei Macário de São João, um religioso pertencente ao Mosteiro Beneditino da Bahia, o prédio da igreja se tornava bem maior, com a edificação de uma nave mais larga e de uma sacristia.
As obras referentes à capela-mor, aos altares laterais e ao arco-cruzeiro, foram concluídas em 1720. Os pesquisadores consideram o frontispício como um trabalho do arquiteto Francisco Nunes Soares, no ano de 1795. Esse detalhe arquitetônico encontra-se emoldurado por dois campanários, sobre um pórtico de três arcadas.
Cabe ressaltar que a fachada da igreja abriga uma grande quantidade de pedras dos arrecifes, sendo recoberta por azulejos brancos lusos. O interior do templo também é revestido por azulejos. Na nave central, há uma pintura em madeira, representando a Virgem dos Prazeres; e, no altar-mor, pode-se apreciar uma imagem de Nossa Senhora dos Prazeres ladeada por colunas entalhadas em cedro.
Estão presentes na sacristia quatro bonitos painéis - Visita dos Reis Magos, Nascimento de Jesus, Circuncisão do Menino Deus, Isabel e Zacarias e uma criança a ser banhada - um antigo mobiliário em jacarandá, de 1748, e duas imagens do Bom Jesus dos Passos e de Nossa Senhora das Dores. Em uma das paredes da capela-mor, estão enterrados os restos mortais de João Fernandes Vieira e de André Vidal de Negreiros, alguns dos combatentes da Batalha dos Montes Guararapes.
Em um pequeno mosteiro, ao lado da igreja, é possível se observar um ex-voto de 1676, pintado em óleo sobre madeira, e uma antiga imagem de Nossa Senhora dos Prazeres, com 50 cm de altura.
Vale salientar que, após a derrota dos holandeses, a população passou a comemorar, durante oito dias, a Festa de Nossa Senhora das Vitórias, também conhecida como Nossa Senhora dos Prazeres. Neste sentido, o primeiro dia da festa era dedicado à Nossa Senhora do Rosário; o segundo, à Nossa Senhora dos Prazeres; o terceiro, à Senhora Santana; o quarto, a São Gonçalo; o quinto, ao Bom Jesus de Bouças; o sexto, à Nossa Senhora da Soledade; o sétimo, à Nossa Senhora da Conceição; e, o oitavo, ao deus Baco. A Festa de Nossa Senhora dos Prazeres continua sendo comemorada, atualmente, ainda que sem o fervor religioso do passado.
Em 1965, depois que o Estado pagou uma indenização aos monges beneditinos de Olinda, deu-se início a um processo de desapropriação dos Montes Guararapes - e, portanto, da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes. Em 19 de abril de 1971, por sua vez, mediante o Decreto Federal nº 68.527, todo esse valioso patrimônio cultural se tornava um Monumento Nacional, passando a se chamar, então, de Parque Histórico Nacional dos Montes Guararapes.
Fontes consultadas:
BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco. São Paulo: Editora Fundo Educativo Brasileiro, 1983.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
GUERRA, Flávio. Velhas igrejas do Recife, Olinda e Igarassu. [Recife?: s.n., 196?].
_________. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.
MENEZES, José Luiz da Mota. O Recife e as construções religiosas. Arrecifes: Revista do Conselho Municipal de Cultura, Recife, a. 3, n. 2, p.27-31, 1987.
MUELLER, Bonifácio. Olinda e suas igrejas; esboço histórico. Recife: Livraria Pio XII, 1945.
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado. Recife: Edição do Autor, 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário