PAULO AFONSO (usina hidrelétrica)
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
No século XVI, por ocasião do descobrimento do Brasil, os portugueses já se admiravam da força das águas do rio São Francisco. Um dos colonizadores, Pero de Magalhães Gandavo, em 1576, deixava registrado que esse rio era navegável por sessenta léguas e que, a partir de certo ponto, não se podia passar, devido a uma grande cachoeira cujas águas caiam de uma altura muito grande. Ao longo dos séculos, muitas tentativas para se aproveitar o potencial do chamado “Velho Chico” foram sendo imaginadas.
Cabe salientar que Paulo Afonso encontra-se situada no centro geográfico das regiões mais pobres dos Estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco. E que, antes do advento da CHESF - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - a localidade já tinha servido como esconderijo do bando de Lampião, que se embrenhava na Furna dos Morcegos e no raso da Catarina, uma região com seus 6.400 km2 de difícil acesso e de condições bastante hostis.
Por volta de 1910, o legendário industrial Delmiro Gouveia conseguia aproveitar a força da cachoeira de Paulo Afonso, e construía uma usina hidrelétrica. Para tanto, encabeçou a criação de uma empresa de capital misto, juntamente com um milionário e um engenheiro norte-americanos e, como o primeiro passo, adquiriu as terras localizadas nas margens da cachoeira, do lado alagoano, incorporando-as ao domínio privado.
Em seguida, conseguiu obter vários privilégios do Governo, entre os quais o direito de explorar as terras improdutivas em Água Branca, Alagoas; a concessão para captar o potencial hidrelétrico da cachoeira de Paulo Afonso e produzir eletricidade; e a isenção de impostos referentes à sua fábrica de linhas de costura Estrela, na localidade de Pedra, situada a 23 km da cachoeira. Entre 1910 e 1911, todos essas concessões foram transformadas em decretos-lei pelo Estado de Alagoas e, desse modo, através dos esforços de Delmiro Gouveia, era construída Angiquinho, a primeira usina hidrelétrica.
Para gerir os seus empreendimentos, o industrial tornou a pleitear, junto aos Estados nordestinos, concessões adicionais e isenções de impostos. Vale ressaltar que, em se tratando de Pernambuco, o General Dantas Barreto (o governador, na época) negou aqueles pleitos, alegando que eles eram lesivos aos interesses do Estado. A despeito da negativa, entretanto, Delmiro Gouveia levava adiante o seu projeto e, no dia 26 de janeiro de 1913, Pedra já possuía energia elétrica fornecida pela cachoeira de Paulo Afonso. A usina de Angiquinho continha três turbinas a uma altura de 42 metros, com tensão de 3.000 volts, sendo a primeira de 175 kVA, a segunda de 450 kVA e, a última, de 625 kVA.
Poucos anos depois, em 1917, vale lembrar, enquanto lia jornal na varanda de sua casa, alguns pistoleiros matavam o pioneiro da energia elétrica do Nordeste do Brasil. E em uma justa homenagem prestada pelo Governo de Alagoas, algumas décadas após aquele incidente, a antiga localidade de Pedra passava a denominar-se cidade Delmiro Gouveia.
No ano de 1921, por ocasião do Governo de Epitácio Pessoa, era realizado o primeiro levantamento topográfico da cachoeira de Paulo Afonso. Entretanto, o impulso para a construção da usina Paulo Afonso I surgiria a partir de 1942, mediante os esforços de Apolônio Sales, Ministro da Agricultura de Getúlio Vargas, que no dia 4 de abril de 1944, propôs a criação da Companhia Nacional Hidrelétrica do São Francisco.
Neste sentido, pode-se afirmar, então, que a construção da primeira usina hidrelétrica de Paulo Afonso está intrinsecamente ligada à criação da própria CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco.
Em 1949, iniciou-se a construção da usina de Paulo Afonso I. Vale destacar que a barragem de Paulo Afonso I está localizada em um arquipélago fluvial, situado a 250 km da foz do rio São Francisco, e que a construção de uma barragem móvel, no braço principal do rio, foi de difícil solução. Contudo, alguns anos depois, foram concluídos os trabalhos referentes à edificação daquela barragem e de sua ligação com a barragem fixa.
O sistema de Paulo Afonso I foi inaugurado em 1954. A princípio, nele havia somente duas máquinas geradoras, de 60.000 kW cada uma, referentes às linhas tronco Norte, para o Recife, e Sul, para Salvador, assim como as estações intermediárias de Angelim e Itaparica, compreendendo um total de 860 km de linhas de transmissão de 220 kV.
Foram assinados, ainda, contratos para o fornecimento de energia elétrica para as cidades de João Pessoa, Campina Grande, Aracaju, Garanhuns, Pesqueira, Goiana, Itabaiana, Riachuelo e Maruim, assim como para oito empresas particulares. A produção anual de energia do sistema atingia 202.572.710 kWh.
Entre os anos de 1963 e 1968, edificou-se a usina Paulo Afonso II. Na época, o complexo possuía uma potência total nominal de 615 MW. Entre 1969 e 1970, Paulo Afonso III era concluída e, em 1971, suas duas primeiras unidades começavam a funcionar. A usina Paulo Afonso IV, por sua vez, entrava em operação no ano de 1979.
Se o consumo de energia per capita era, em 1955, de 35 kWh por habitante ao ano, em 1975 chegava a 220 kWh, significando um aumento de 529% no período. Nos dias de hoje, o Complexo de Paulo Afonso, formado pelas usinas Paulo Afonso I, II, III, IV e Apolônio Sales (em Moxotó), produz um total de 4 milhões e 280 mil kW. Toda essa energia é gerada através de um desnível natural de 80 metros do rio São Francisco, e a cachoeira de Paulo Afonso continua sendo preservada.
E, enquanto suas máquinas gigantescas circulam sob o impacto das águas da cachoeira, o Complexo de Paulo Afonso segue alimentando a fome de energia da Região Nordeste, atendendo aos setores primários, secundários, terciários, impulsionando o turismo, gerando novos empregos, e contribuindo para o desenvolvimento do país.
Fontes consultadas:
CHESF . Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. Recife, [2002?].
GOMES, Francisco de Assis Magalhães. História & energia: a eletrificação no Brasil. São Paulo: Eletropaulo, 1986.
IULIANELLI, Jorge Atílio Silva. Análise (curta) dos confrontos (recentes) do pólo sindical do Sub-Médio São Francisco: quando o inimigo é difuso e criminoso. Cadernos do CEAS, Salvador, n. 185, p. 37-56, jan.-fev. 2000.
JUCÁ, Joselice. CHESF, 35 anos de história. Recife: CHESF, 1982.
LINS, Rachel Caldas. Uma aproximação hidrográfica com as perspectivas energéticas do Nordeste. Estudos Universitários, Recife, v.13, n.4, p.41-69, out./dez. 1973.
NASCIMENTO, Luiz Fernando Motta. Paulo Afonso: luz e força movendo o Nordeste. Salvador: EGBA/ACHÉ, 1998.
OLIVEIRA, Rezilda Rodrigues. A CHESF e o papel do Estado na geração de energia elétrica. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 32, n. 1, p. 10-35, jan.-mar. 2001.
nossa q maravilha
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