Antes de discorrer sobre a Praça Maciel Pinheiro, faz-se necessário conhecer um pouco da vida do homenageado. Luís Ferreira Maciel Pinheiro nasceu na Paraíba, no dia 11 de dezembro de 1839, filho do português Braz Ferreira Maciel Pinheiro e de Margarida Maciel Pinheiro.
O paraibano de nascimento, contudo, vem morar no Recife e, em 1860, ingressa na Faculdade de Direito. Ali, convive com Castro Alves, Fagundes Varela, Martins Júnior, Tobias Barreto. Do primeiro deles, torna-se um grande amigo. Durante o curso de Direito, ele dá início à sua vida como jornalista. Neste sentido vale registrar um incidente: o jovem aspirante a bacharel em Direito - adepto de idéias liberais e republicanas, e radicalmente favorável ao abolicionismo - escreve um artigo insuflado contra o Professor Tiago de Loureiro, no dia 28 de novembro de 1864, recebendo como pena, por conta disso, três meses de prisão.
Maciel Pinheiro escreve também um artigo vibrante sobre a questão do voluntariado na guerra do Paraguai. E ele próprio se alista, como voluntário, partindo para lutar nessa guerra. Castro Alves homenageia-lhe com o poema Peregrino audaz. Durante tal estada, no entanto, Maciel contrai malária nos campos de batalha e, apesar de todo o patriotismo e coragem, a sua saúde fica por demais abalada e ele retorna a Pernambuco. Entretanto, continua participando da vida pública e política do Estado.
De volta ao Recife, finaliza o curso de Direito, casa-se com Isabel de Castro, e inicia a vida profissional, como promotor, no Rio Grande do Sul. Em decorrência da falta de adaptação às baixas temperaturas do Sul, Maciel Pinheiro volta para o Nordeste. No que diz respeito à sua trajetória profissional pode-se dizer que ele exerceu os seguintes cargos: juiz substituto, no Recife; juiz de Direito em Taquaritinga e Timbaúba (Pernambuco), juiz de Direito no Ceará e no Pará.
Em 1880, morre a sua esposa, deixando-lhe os três filhos pequenos: Tomaz, João e Luís. Sua maior válvula de escape, então, se dá através do jornalismo. Só a partir de 1884, contudo, Maciel decide se dedicar, de corpo e alma, à redação de artigos para o Jornal do Recife e A Tribuna, através dos quais defende os ideais abolicionistas de liberdade e igualdade. Nesse segundo jornal, inclusive, no dia 13 de maio de 1888, é possível apreciar matérias valiosas assinadas por Maciel Pinheiro, Joaquim Nabuco e José Mariano.
Maciel Pinheiro é eleito para ocupar a cadeira número 22 da Academia Pernambucana de Letras. Participa da direção do jornal A Província e, com José Mariano, cria o jornal O Norte, dando continuidade à luta em prol do abolicionismo e dos direitos humanos. No prefácio de seu trabalho - Espumas flutuantes -, Castro Alves enaltece o amigo com as seguintes palavras:
Maciel Pinheiro é um destes moços que simbolizam o entusiasmo e a coragem, a inteligência e o talento nas academias.
Devido à malária adquirida durante a guerra do Paraguai, e aos problemas decorrentes dessa enfermidade, Maciel Pinheiro não consegue mais resistir: falece no dia 9 de novembro de 1899, faltando apenas seis para vivenciar a tão sonhada Proclamação da República. O abolicionista Joaquim Nabuco, grande admirador do notável guerreiro, sobre ele escreve as seguintes palavras:
Em toda a imprensa, não há ninguém cuja pena corte como uma espada afiada, como a dele; não há outro que seja ao mesmo tempo o escritor ardente, o magistrado inflexível e o soldado patriota que ele é. Em Maciel Pinheiro, o jornalista é o homem.
Findo um resumo da vida de Luís Ferreira Maciel Pinheiro, agora é a vez de se falar um pouco sobre a praça que leva o seu nome. A atual Praça Maciel Pinheiro foi inaugurada no dia 7 de setembro de 1876, no coração do bairro da Boa Vista, em comemoração à vitória das tropas brasileiras na guerra do Paraguai (1964 -1870). Da Praça, ou em direção à mesma, começam e/ou finalizam as seguintes ruas: Hospício, Imperatriz Teresa Cristina, Matriz, Aragão, Conceição e Manuel Borba.
Na ocasião de sua inauguração, a Praça apresentava um grande chafariz, bonitos lampiões antigos que iluminavam todo o ambiente, muitos bancos de madeira, e o seu jardim era todo cercado por grades de ferro. Inicialmente, possuiu vários nomes: Moscoso, Largo do Aterro ou da Matriz, Boa Vista e Conde d'Eu. Nesse logradouro público, porém, foram feitas algumas modificações. Em primeiro lugar, o seu chafariz não mais existe: em seu lugar, é instalada uma fonte. Por sua vez, as grades originais são retiradas e outras, posteriormente, vêm ocupar o seu lugar. Por fim, somente muitos anos depois a Praça vem se chamar Maciel Pinheiro, em homenagem ao talentoso jornalista e abolicionista.
Apesar de pequena, tal logradouro possui um precioso troféu: sua bela fonte de pedra contendo leões, máscaras, ninfas e uma índia. Descrevendo a fonte mais detalhadamente é possível dizer que, de sua base, foi construído um tanque redondo. Em cima dele, quatro imponentes leões jazem sentados olhando os transeuntes - como que guardando, serenos, os pontos cardeais. Sobre as cabeças desses animais é erguida a primeira bacia d'água circular da fonte. Do centro dessa bacia, em pé, podem ser apreciadas quatro ninfas seminuas, bem semelhantes à Vênus de Milo. Um pouco acima de suas cabeças, brotando da coluna central, jaz a segunda bacia circular da fonte. A coluna detalhada se eleva mais um pouco e eis que surge a terceira bacia, a menor de todas. Em cima dela, observam-se três máscaras de pedra, esculpidas sobre a coluna central, de cujas bocas abertas emanam as águas que alimentam o tanque redondo, após escorrer pelas três bacias. No topo da fonte, finalmente, representando a população nativa do País, surge uma índia monumental, munida de arco e flecha, como que reinando, absoluta, com o seu corpo voltado para a Igreja-Matriz da Boa Vista e a rua Imperatriz Teresa Cristina.
Antes da II Guerra Mundial, em decorrência do anti-semitismo e das graves perseguições contra os judeus, ocorre uma grande migração para Pernambuco, principalmente por parte da população judaico-européia. Essas famílias se instalam, de início, no bairro da Boa Vista.
Por sua condição geográfica, a Praça Maciel Pinheiro se torna o reduto da colônia judaica do Estado, representando o principal fórum de encontros e debates tanto por parte dos imigrantes, quanto ainda dos pernambucanos residentes em seus arredores. Além do português, o que mais se ouvia ali era o iídiche, língua falada pelos judeus askenazim - aqueles provenientes da Europa Oriental. E, nos bancos da Praça, discutiam-se as últimas novas relativas à política, ao comércio, às artes, à literatura, e outros assuntos. A população não-judia e menos escolarizada, residente no Recife, devido à falta de conhecimento, costumava referir-se àqueles judeus como os russos.
Inclusive, caberia salientar o seguinte: no último andar de um prédio, que se localiza na esquina da Travessa do Veras com a Praça Maciel Pinheiro, viveu Clarice Lispector (1925 -1977), uma das mais importantes escritoras do século XX, e aquela que possui o maior número de obras traduzidas. Apesar de ter nascido na Ucrânia, ela veio com os seus pais para o Brasil, aos dois meses de idade, fugindo do anti-semitismo. Clarice Lispector residiu a maior parte da sua vida, entre o Recife e Maceió e fez questão de naturalizar-se brasileira.
Entre os anos 1940 e 1980, o comércio da Praça Maciel Pinheiro era, em sua essência, representado por judeus: Avrum Ishie Vainer - miudezas; Israel Fainbaum, Germano Vainsencher, Benjamin Berenstein, Adolfo Cornistean, Maurício Gandelsman, Maurício Schver, movelaria; Sônia Charifker - confecções; Nathan e Frieda Pinkovsky - miudezas e confecções; Júlio Guendler - confecções; Fany Genes e Elisa Moreinos - brinquedos.
Na atualidade, poucos sobrados antigos - os de números 341, 354, 363, 369 e 387 -, estão preservados. Na Praça surgiram bancos - o Banco Brasileiro de Descontos (BRADESCO) -, um escritório da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), casas lotéricas, bares, e outros.
Fontes consultadas:
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos perdidos, história recuperada: a presença judaica em Pernambuco. Recife: Edição do Autor, 2000.
SILVA, Jorge Fernandes da. Vidas que não morrem. Recife: Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, 1982.
ZISMAN, Meraldo. Jacob da balalaica. Recife: Bagaço, 1998.
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