quarta-feira, 20 de maio de 2009

SUAPE - PORTO E COMPLEXO INDUSTRIAL

SUAPE - PORTO E COMPLEXO INDUSTRIAL

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Antes de falar do Complexo Industrial-Portuário de Suape, faz-se necessário discorrer um pouco sobre a descoberta do Cabo de Santo Agostinho, que fica situado no perfil do mapa de Pernambuco, e alguns outros dados históricos referenteS ao mesmo. Segundo os registros que remetem aos tempos do descobrimento da América, no dia 26 de janeiro de 1500, Vicente Yanez Pinzón, um dos companheiros de viagem de Cristóvão Colombo, foi o primeiro europeu a chegar no local, três meses antes do próprio Pedro Álvares Cabral. Pinzón chamou a nova terra descoberta de Santa Maria de la Consolatión, em homenagem à santa protetora das embarcações, hoje denominado Cabo de Santo Agostinho. Trata-se de um local belíssimo, que se encontra a 40 km ao sul da cidade do Recife.

No dia 28 de outubro de 1580, foi instituído o morgado de Nossa Senhora da Madre de Deus do Cabo de Santo Agostinho, vinculando-se a ele o engenho Madre de Deus que, posteriormente, foi chamado de Engenho Velho. Na época, o povoamento da área compunha-se de algumas casas distantes umas das outras.

Cabe ressaltar que Suape era o nome de um ancoradouro existente na ilharga do Cabo, que ficava separado do mar por um cordão de recifes de arenito. Em sua extremidade norte, no qual desembocavam três rios importantes - o Massangana, o Tatuoca e o Ipojuca - uma muralha de aproximadamente 800 metros permitia o acesso de pequenas embarcações. Quando somente os índios viviam ali, o atual rio Massangana era chamado de Suape - que, em tupi, significa caminho incerto - devido à própria trajetória incerta desse rio. Desde o começo da civilização, então, por seu alto valor estratégico, a posição do Cabo de Santo Agostinho e a configuração das regiões adjacentes deram margem à utilização do estuário de Suape como base de infra-estrutura portuária, bem como à disputa de holandeses e portugueses pelo seu domínio, em grandes batalhas. Desde sempre, portanto, aquele estuário exerceu funções econômicas e estratégicas.

No século XVII, quando os holandeses fortificaram um reduto do Cabo de Santo Agostinho, o conde Bagnoli construiu uma fortaleza nas imediações, para proteger o porto de Santo Agostinho. A mesma, chamada depois de Nazaré, foi uma edificação inútil porque não conseguiu defender o lugar nem a barra. Posteriormente, mudaram o seu nome para Forte de Nazaré e Forte do Pontal de Nazaré. Era desse porto que os pernambucanos embarcavam os seus produtos e recebiam provisões e socorros da Europa e das demais capitanias, além de desembarcarem os escravos africanos. Na localidade, ainda é possível se apreciar as ruínas daquele Forte.

Em 1635, a área capitulou: os portugueses perderam o domínio do porto de Santo Agostinho e abandonaram o território da Capitania. Somente em 1646, o porto retomou as suas funções de apoio à Insurreição Pernambucana. Por ele, passaram uma caravela (repleta de armas, munições e mantimentos) e quatro pesados navios ingleses que abasteceram os restauradores. Entre outros, a disputa também terminou quando Vidal de Negreiros mandou obstruir a barra do porto com pedras. Depois disso, e até meados do século XIX, por ali só navegaram pequenos barcos e jangadas.

Um outro espaço, por sua vez, foi se formando no Cabo de Santo Agostinho, a partir da substituição da Mata Atlântica pela cultura da cana-de-açúcar, fazendo predominar, na região, a atividade econômica da agroindústria açucareira. Através dessa atividade, começou a verdadeira colonização daquelas terras, assim como a implantação das usinas. A vila do Cabo de Santo Agostinho foi criada por força do alvará de 27 de julho de 1811, e da Provisão Régia de 15 de fevereiro de 1812. Só a partir de 9 de julho de 1877 a cidade tomou o nome de Cabo de Santo Agostinho.

Durante muito tempo, e na maior parte do século XX, o distrito industrial de Pernambuco concentrou-se no município do Cabo, na Região Metropolitana do Recife, porque a capital do Estado não dispunha de um espaço adequado para tal finalidade. O crescimento das regiões urbanas, entretanto, veio provocar uma maior sobrecarga no Porto do Recife, o que contribuiu para se pensar em alternativas portuárias ao sul do litoral. O recôncavo do Cabo de Santo Agostinho, e uma área ao seu redor, foram escolhidos como a melhor e mais próxima opção.

Em 1973/1975, o Governo de Pernambuco concebeu um Plano Diretor e deu início à luta pela implantação de um Complexo Industrial-Portuário no Cabo de Santo Agostinho, uma vez que a própria posição geográfica do Estado, no centro da Região Nordeste, facilitaria a implantação do Porto de Suape. Levou-se em consideração, ainda, três elementos fundamentais: 1. a pouco mais de 1 km do cordão de arrecifes, junto à linha da costa, a localidade possuía águas com profundidade de 17 metros; 2. havia um quebra-mar natural formado pelo cordão de arrecifes; e, 3. existiam na região extensas áreas reservadas à implantação de um grande parque industrial.

Além de tudo isso, Suape localizava-se a, apenas, oito horas das rotas internacionais dos grandes transportadores dos Estados Unidos e da Europa. Desse modo, através da Lei no. 7.763/78, no dia 7 de novembro de 1978, criou-se a empresa Suape Complexo Industrial Portuário. A área destinada ao Complexo abrangia a faixa litorânea entre o rio Jaboatão e a praia de Porto de Galinhas, compreendendo parte dos municípios de Cabo e de Ipojuca.

Para que o mega empreendimento pudesse se concretizar, foram desapropriados cerca de 13.500 hectares de terras. As operações do Porto de Suape tiveram seu início através do Píer de Granéis Líquidos, que foi arrendado à Petrobras, em abril de 1984, quando foi realizado o primeiro embarque de álcool. Nesse mesmo ano, um molhe em pedras foi construído, com o objetivo de proteger a entrada interna do porto. Com a bacia formada depois do molhe, foi implantada a primeira oferta portuária. Ela constou de duas instalações de acostagem de navios - o chamado Píer de Granéis Líquidos (PGL) e o Cais de Múltiplos Usos (CMU). Três anos depois, em 1987, o Parque de Tancagem de Derivados de Petróleo do Porto do Recife foi transferido para Suape; e, em 1991, o Cais de Múltiplos Usos (CMU), que movimenta cargas de conteiners, entrou em operação.

A regularização da situação jurídico-institucional do Porto de Suape, junto ao Governo Federal, por outro lado, efetivou-se mediante o Departamento de Transportes Aquaviários da Secretaria Nacional de Transportes, no ano de 1992. Isso permitiu ao Governo de Pernambuco explorar, comercialmente, aqueles serviços portuários.

Em 1999, ocorreu a construção da primeira etapa do chamado porto interno - 935 metros de cais e profundidades de até 15,5 metros. Dois anos depois, iniciou-se a segunda etapa de construção, através da dragagem de mais de 1 milhão e 300 mil m3. Em seguida, o canal de navegação foi ampliado em mais 450 metros, o que possibilitou a edificação do Cais 4. Em 2002, para atender às novas demandas, empreendeu-se a duplicação da avenida portuária (uma extensão de 4,4 km), e a construção do 1º. Prédio da Central de Operações Portuárias de Suape. No ano seguinte, o Porto recebeu, da Food and Drug Administration (FDA), do Governo dos Estados Unidos, um certificado atestando o seu cumprimento da lei contra o bioterrorismo.

No ano de 2004, foi instalada a Emplal, uma indústira de embalagens plásticas por termoformagem, e inaugurado, também, o Centro de Treinamento do Complexo Industrial Portuário de Suape, um empreendimento voltado para o atendimento dos funcionários das empresas instaladas no Porto, e das comunidades que vivem em suas imediações. Em 2005, foi assinado um acordo entre a Petrobrás e a empresa Petróleos da Venezuela S. A. no sentido de se instalar, em 2007, uma refinaria de petróleo, capaz de processar 200 mil barris de petróleo por dia, de gerar aproximadamente 10 mil empregos durante a sua construção e, ao ser concluída, de abrigar 1,5 mil trabalhadores.

Presentemente, Suape representa o pólo industrial mais completo do Nordeste do Brasil, recebendo, distribuindo e exportando matérias primas, insumos básicos e produtos finais, além de ser incluído entre os 11 portos prioritários do País, e a principal alternativa para o transporte de cargas de e para toda a costa atlântica da América do Sul, com baixos custos de fretes. Além de contar com a presença de mais de setenta empresas (instaladas ou em fase de implantação), possui, ainda, um porto externo, um porto interno, alguns terminais de granéis líquidos, um cais de múltiplos usos, e um terminal de contêineres. Com 16,5 metros de profundidade, o Porto atende a navios de grande porte, movimentando, anualmente, mais de 5 milhões de toneladas de carga, a exemplo de granéis líquidos (derivados de petróleo, álcool, produtos químicos, óleos vegetais, e outros) e cargas conteinerizadas. O Porto possui eficazes sistemas viários, de suprimento de energia elétrica, de abastecimento d´água e de telecomunicações, e realiza, inclusive, as operações de transhipment - que consistem na transferência de cargas, de navios de grande porte, para as instalações portuárias, e o seu posterior reembarque em navios menores.

O Complexo Industrial-Portuário de Suape possui mais de 6.000 hectares sob proteção ambiental e, entre as empresas já instaladas ou em fase de instalação, estão a Aluminic Industrial S/A, a Bonesa Borracha S/A, a Cimec - Cia. Industrial e Mercantil de Cimentos, a Concreto Redimix do NE S/A, a Copagás Distribuidora de Gás Ltda., a Esso Brasileira de Petróleo S/A, a Granex – Granitos de Exp. do NE Ltda., a Indústria de Caixas Plásticas do NE Ltda., a Pedra Cerâmica Santo Antônio S/A, a Petrobrás Distribuidora S/A, a Refresco Guararapes Ltda. (Coca-Cola), a Shell do Brasil S/A, a Termo Fértil S/A, a Transportadora Cometa, e a Work Mariner Ltda.

Por fim, cabe registrar que o Porto de Suape, um dos mais importantes do mundo, opera navios em todos os dias do ano, independentemente dos horários das marés, e dispõe de um sistema de monitoração de atracação de navios a laser, que proporciona um controle mais seguro, tanto para as pessoas quanto para os seus carregamentos.


Fontes consultadas:

ANDRADE, Gilberto Osório de; LINS, Rachel Caldas. Pirapama: um estudo geográfico e histórico. Recife: Editora Massanganam 1984.

BRAGA, João. Guia turístico, histórico e cultural. Recife: Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, 2000.

CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal do Recife, 1998.

FORMAÇÃO histórica e geográfica do cabo. Cabo: Departamento de Estudos Sociais, Secretaria de Educação, Prefeitura Municipal do Cabo, 1988.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

JORGE, José . Suape, a retomada do desenvolvimento. Brasília: Senado Federal, 2000.

KATER, Maria das Graças L.; BARROS, Maria de Lourdes Osório de. O processo de transferência dos agricultores situados na área de Suape, pertencentes à Cooperativa de Tiriri. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 6, 1985, Garanhuns, PE. Anais. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1985.

LINS, Rachel Caldas. O cabo e as revoluções pernambucanas. Ciência e Trópico Recife, v. 9, n. 1, p. 67-95, jan./jun. 1981.

MOTTA, Roberto. O povoado de Suape: economia, sociedade e atitudes. Recife, Revista Pernambucana de Desenvolvimento, v. 6, n. 2, p. 209-247, jul./dez. 1979.

O Complexo de Suape. Rio de Janeiro, PlanejamentoP&Ddesenvolvimento, na. 5, n. 56, jan. 1978.

SUAPE: Complexo Industrial Portuário. Disponível em: . Acesso em: 12 jan. 2006.

SUAPE, ecologia e cultura. Recife: Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco/Secretaria de Planejamento/Governo do Estado de Pernambuco, 1978.

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