terça-feira, 19 de maio de 2009

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM, Recife, PE

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM (Recife, PE)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


A Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, até a metade do século XVII, estava localizada no antigo território da Barreta, correspondente a toda a área costeira, que se estendia desde o frontal do Pina até a povoação das Candeias. Não se tem conhecimento, porém, de uma fonte precisa que assegure a data da abertura da igreja.

Antes de 1848, o templo pertencia à paróquia de Nossa Senhora da Paz, em Afogados; e, só em 8 de setembro daquele ano, conseguiu ser elevado ao nível de paróquia independente.

O documento mais antigo sobre a igreja, é uma escritura datada de 6 de junho de 1707. Nela, Balthazar da Costa Passos e sua esposa, Ana de Araújo Costa, doam, ao padre Leandro Camelo, um local onde havia um "oratório ou presepe a Jesus e Maria, juntamente com o solo que estava perto, que era um sítio de terras na Barreta, com cem braços de frente e uma légua de fundo, desde a praia até o Rio Jordão".

Ainda por testamento, aqueles doadores (por serem muito religiosos) anexam, ao patrimônio da capela, mais um sítio, ao lado, "com 500 braços de terra, com trinta e tantos pés de coqueiros, onde está uma casa de taipa à venda, em que antigamente morava Manuel Setubal".

Uma outra informação, extraída de documentos históricos, ressalta que o padre Leandro Camelo, empregando tudo o que possuía, manda fazer uma imagem com o título da Boa Viagem, em obséquios de Maria Santíssima, colocando-a em uma magnífica Igreja que erige, distando duas léguas do Recife, sobre as praias do mar.

Segundo os estudiosos do assunto, a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, no período do Brasil-colônia, embora modesta, representava um dos templos de maior rendimento patrimonial do Recife. O seu usufruto era de cinco grandes sítios, quatro pequenos, e vinte casas térreas no povoado, além de um pequeno sítio de coqueiros na praia, doado pelo padre Luís Marques Teixeira, com o único compromisso de ser retirada, de sua renda, "a quantia necessária para se conservar acesa dia e noite a lâmpada da capela-mor da Igreja".

As grandes reformas, na Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, são iniciadas em 1862. No lugar do prédio anterior, ergue-se um novo, com uma estrutura mais solene. Existia, antes disso, uma pequena igreja com linhas simplórias, e um alpendre erguido em sua frente, que mais parecia um daqueles templos modestos da zona rural.

Vale ressaltar que o acesso a Boa Viagem, no começo do século XX, era bastante difícil. Em 1908, por exemplo, de acordo com os estudiosos do assunto, via-se, apenas, umas 60 casas de construção regular, desalinhadas, e uma capela. A povoação só apresentava alguma vida nos meses de setembro a março, período em que a estação balneária era freqüentada.

Distando 11 km do centro do Recife, Boa Viagem só toma impulso depois que a Avenida Beira-Mar é construída. Isto possibilita à população utilizar o bonde elétrico para ir à praia. Antes disso, porém, em se tratando de transporte público, só havia uma linha de bondes, puxados por burros, inaugurada em 1899.

Outro fator relevante para o crescimento de Boa Viagem é a construção, depois da Segunda Guerra Mundial, dos aeroportos civil e militar, no Ibura; assim como do hospital dos norte-americanos, e do Parque da Aeronáutica, em Piedade.

Durante a grande reforma (1862), os religiosos preservaram alguns altares, entre os quais o da sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. Datado de 1745, esse altar foi entalhado pelo mestre João Pereira, e dourado pelo artista Francisco Teixeira Ribeiro, no ano de 1772.


Fonte consultada:

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

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