Os zepelins eram balões dirigíveis que se assemelhavam a enormes charutos, e as suas viagens representavam verdadeiras atrações, que eram aguardadas com ansiedade pela população. Finalmente, o ser humano havia conquistado um dos seus antigos e maiores sonhos: o poder de voar. Vale registrar que a utilização do gás hélio (um gás não inflamável) possibilitou o surgimento da era dessas aeronáveis.
O inventor do balão dirigível foi o conde alemão Ferdinand Adolf Heirinch von Zeppelin (1839 -1917). No dia 2 de julho de 1900, com uma aeronave impulsionada por dois pequenos motores, o conde conseguiu sobrevoar o lago Constanza, na fronteira da Alemanha com a Suíça.
Por conta desse feito extraordinário na História da Aviação, os dirigíveis ficaram sendo chamados até o presente de zepelins, o mesmo nome do seu inventor.
O sucesso dos balões dirigíveis levou à fundação, na Alemanha, da primeira companhia aérea de transportes de cargas e de passageiros: a Deutsche Luftschiffahrts Aktein Gesellchaft (DELAG).
Nas primeiras décadas do século XX, os alemães haviam lançado os seguintes dirigíveis, como o ápice deus avanços tecnológicos: o "Graf Zeppelin" (em 1928) e o "LZ 129 Hindenburg" (em 1936). Possuindo interiores extremamente confortáveis, e com capacidade para enfrentar as travessias transoceânicas, eles funcionavam como verdadeiros hotéis flutuantes.
Em se tratando da segurança dessas aeronaves vale lembrar que, no dia 6 de maio de 1937, em Lakehurst, nos Estados Unidos, houve um acidente fatal com o "Hindenburg".
Por apresentar uma posição geográfica privilegiada no Nordeste do Brasil, a cidade do Recife foi escolhida para abrigar a primeira base operacional dos dirigíveis "Zeppelin" e "Hindenburg". Para tanto, construiu-se em Jiquiá um Parque de Aerostação, com uma torre de atracação de 16 metros de altura. Era a primeira estação aeronáutica para dirigíveis da América do Sul e tinha uma função semelhante a dos faróis.
No dia 22 de maio de 1930, quando um desses grandes peixes-voadores chegou em Recife pela primeira vez, o fato teve tamanha relevância que Estácio Coimbra, governador de Pernambuco naquela época, decretou feriado estadual. E o dirigível terminou pousando no Campo dos Dirigíveis do Jiquiá.
Durante os anos seguintes (1930 a 1937), os zepelins não deixaram de cruzar os ares entre a Alemanha e o Brasil: saiam de Friedrichshafen e faziam escala em Recife. Nesse período, o "Graf Zeppelin" realizou sessenta e cinco viagens, e o "Hindenburg" empreendeu duas. E essas aeronaves pousaram oito vezes em Jiquiá.
Os zepelins faziam tanto sucesso que, em certa ocasião, Ascenso Ferreira chegou a escrever um poema sobre eles:
Graf Zeppelin
W Z! K D K A! U Z Q P!
· Alô, Zeppelin! Alô, Zeppelin! Alô, Zeppelin!
· Usted me puede dar nuevas del Zeppelin?
· Dove il Zeppelin?
· Where is the Zeppelin?
· Passou agorinha em Fernando de Noronha.
· Ia fumaçando!
· Chegou em Natal!
(Augusto Severo, acorda de teu sono, bichão!)
· Alô, Zeppelin! Alô, Zeppelin!
· Rádio, rádio, rádio!
W Z - Q P Q P – G Q A A ... = Jiquiá!
· Apontou!
· Parece uma baleia se movendo no mar.
· Parece um navio avoando nos ares.
· Credo, isso é invento do cão!
· Ó coisa bonita danada!
· Viva seu Zé Pelin!
· Vivôôôô!
· Deutschland über alles!
· Atracou!
. . . . . . . . . . . . . . . . . .
Saudade: - "Olá, seu Ferramenta,
Você sobe ou se arrebenta!"
Vale salientar que Augusto Severo foi um aeronauta potiguar, morto em 1901 em decorrência da explosão, no ar, do balão "Pax" que o conduzia. O aeroporto de Natal possui o seu nome em uma justa homenagem. E, Ferramenta, trata-se de um capitão luso que, no ano de 1905, subiu aos céus em um outro balão.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), por ocasião do bombardeio de Londres, o zepelim foi utilizado pelos alemães como arma de guerra. Na Segunda Guerra Mundial, por sua vez, essa aeronave foi usada em operações de patrulha e resgate.
De conformação telescópica e com 19 metros de altura, a Torre do Zepelim se encontra, presentemente, em uma área sob jurisdição militar. Em 1982, essa antiga atração foi tombada pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - FUNDARPE. Hoje, ela representa a única torre para dirigíveis existente em todo o mundo.
Um ano antes disso, contudo, sob o patrocínio do Governo do Estado de Pernambuco, da Empetur, da Varig e da Administração do Aeroporto de Frankfurt (Alemanha), os sete ex-integrantes da tripulação do "Zeppelin" visitaram aquela torre.
Em 1997, a Alemanha construiu o LZ N 07, o mais novo membro da família Zeppelin e integrante da quarta geração dos dirigíveis de alta tecnologia. A aeronave foi desenvolvida pela Zeppelin Luftschifftechnik GmbH, em Friedrichshafen, e deverá ser empregada em vôos científicos, publicitários e turísticos.
Fontes consultadas:
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
PROJETO:Recife-Cidade do Zeppelin. Recife: Grupo Zeppelin, 1997. Mimeografado.
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
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