IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO (Recife, PE)
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
A igreja de Nossa Senhora da Assunção fica situada na rua das Fronteiras, no bairro da Boa Vista, e possui um estilo barroco. Nossa Senhora da Assunção é uma santa tão consagrada que a sua imagem, é carregada, também, durante a procissão da Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Boa Vista.
No ano de 1630, porém, todo o terreno onde estava a igreja fazia parte de um grande sítio, cujo proprietário era um rico colono: João Velho Barreto. Lá, se encontravam uma grande vivenda e algumas casas bem modestas, pertencentes aos demais moradores.
Documentos históricos registram que, durante a invasão holandesa, aquele sítio foi ocupado por 180 homens, sob o comando do capitão Antônio Ribeiro de Lacerda. Essa ocupação durou bem pouco tempo e, em seguida, a localidade do posto do Passo do rio dos Afogados passou a ser defendida por Luís Barbalho Bezerra, junto com sua tropa de índios e colonos.
Dessa vez, para lutar contra os holandeses, surgem vários pontos fortificados, assim como estâncias, e a defesa confiada a Henrique Dias, um oficial negro notabilizado durante a Batalha dos Montes Guararapes, e uma tropa de homens negros. Com uma boa posição estratégica, Henrique Dias consegue causar uma série de derrotas aos flamengos.
Isso enfureceu os comandantes do exército batavo: Segismund Von Sckoppe e Gillis Van Luffel. No dia 5 de agosto de 1648, então, o general escolhe dois mil soldados flamengos e, sob o seu comando, ataca furiosamente a estância de Henrique Dias. Passando à ofensiva, o oficial negro reage de tal maneira que os holandeses perdem tal batalha, deixando 50 mortos no campo e mal conseguindo levar o alto contingente de feridos.
Com o objetivo de aterrorizar ainda mais os invasores, os negros daquela tropa vencedora decapitam os flamengos mortos, espetam suas cabeças em lanças e expõe-nas à visão pública. Quase três séculos depois desse episódio, cabe lembrar, a polícia volante, tentando exterminar o cangaço, agiu de maneira similar com o bando de Lampião.
Essa vitória estupenda exacerba o espírito religioso de Henrique Dias. Neste sentido, em 1646, ele decide mandar construir uma capelinha para Nossa Senhora da Assunção (a qual, segundo pensava, havia lhe protegido naquele combate), enquanto esperava poder erguer, no final das lutas, um monumento maior em homenagem à Virgem.
Em respeito aos inúmeros merecimentos dos heróis da guerra de libertação, e servindo à Coroa lusa nas guerras de Estado, são doadas a Henrique Dias, em primeiro lugar, as casas que pertenceram ao holandês Van Luffel. Ele ganha, ainda, as olarias de Gaspar Roque, e todas as terras anexas a elas, junto ao rio Capibaribe, até a ilha de Santo Antônio.
Além dessa relação de bens, D. João IV doou a Henrique Dias "a concessão de uma data de terras para fundação de um monumento cuja época e extensão nada se sabe". É nessa localidade, precisamente, das Fronteiras da Estância de Henrique Dias, que é erguida a capela de Nossa Senhora da Assunção.
O valente governador dos negros, no entanto, apesar de todas as doações recebidas, morreu pobre. Por ordem do governador Brito Freire, todas as despesas do seu funeral foram pagas pela Fazenda Real.
Somente em 1748 são concluídos os trabalhos da construção de uma nova igreja, em substituição à antiga capelinha, de acordo com a solicitação do Regimento de Henrique Dias (ou Regimento dos Henriques), para cumprir uma promessa feita pelo falecido governador negro. Nesse templo, contudo, durante décadas, a administração era feita somente por pessoas negras. O mesmo caso em relação à sua freqüência.
No dia 19 de novembro de 1871 funda-se, no consistório da igreja, a Sociedade dos Henriques, cuja meta era a de manter viva a devoção à Nossa Senhora da Assunção e administrar o templo da Estância. O seu primeiro presidente foi Salvador Henrique de Albuquerque, um major reformado.
Quando o entusiasmo pela fundação da igreja se esgotou, ela caiu no ostracismo, passando a ser administrada por irmandades estrangeiras e pelas irmãs de caridade de um colégio das proximidades. Os atos religiosos continuam sendo celebrados. Presentemente, a igreja de Nossa Senhora da Assunção encontra-se bem conservada. E, em sua fachada, pode-se ainda apreciar volutas, assim como o emblema real que lhe deu o título Capela Imperial.
Fontes consultadas:
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.
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