Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
O primeiro prédio da Sé de Olinda, construído no período 1537/1540, era simples, mal construído, feito de taipa de mão em estilo barroco, e tendo como patrono o Santíssimo Salvador do Mundo Jesus Cristo. Como o prédio ameaçava desabar, foi edificada, em seu lugar, uma outra construção em estilo gótico, a qual foi concluída em 1584, graças à intervenção do Frei Antônio Barreiro, o terceiro bispo do Brasil. Nesse segundo projeto, foram erguidas várias capelas laterais, como as de São João e a dos Reis Magos.
Em 1591, um pedreiro e mestre de obra lisboeta - Braz da Mata - realizava uma "obra de abóbada" na capela-mor da igreja. Oito anos depois (1599), a nave do templo era ampliada. As obras prosseguiram até 1616, quando o engenheiro Cristóvão Álvares edificava a sacristia e uma barbacã.
Em 1631, como tantos outros monumentos religiosos, a Sé ficou em ruínas após o grande incêndio que houve em Olinda, por ocasião da presença holandesa em Pernambuco. No entanto, o prédio foi reconstruído na segunda metade do século XVII.
Com a criação do bispado de Olinda, em 1676, a Sé foi elevada à posição de catedral. Mesmo assim, em 1689, os religiosos ainda solicitavam aos fiéis que carregassem pedras e outros materiais, no sentido de poderem finalizar as obras. Desta feita, o templo ganhou o adro e o seu muro, assentos e pilastras de pedra, o forro, e a ornamentação de talha dos altares e das fachadas interiores das portas. No cômputo geral, esses trabalhos duraram um século para serem concluídos.
Antes da chegada dos flamengos em Pernambuco, a Sé possuía três naves, uma grande torre do lado sul, e uma capela-mor com cúpula de alvenaria. Em 1630, porém, a igreja foi profanada, tendo sido utilizada, até, como estribaria para os cavalos dos hereges. Naquela época, o seu nome havia mudado para o de Igreja-Matriz de São Salvador do Mundo de Olinda.
Essa construção foi citada em várias obras holandesas. Do mesmo modo, foi detalhada por pessoas que a visitaram antes do incêndio de 1631, ou que se basearam em descrições datadas da primeira metade do século XVII. Dentre tais citações, pode-se destacar aquelas dos flamengos C. Baerle (1923), Joan Nieuhof (1942), e do pintor Frans Post, que retratou o templo como uma ruína cerca de oito vezes.
Vale salientar que, a antiga fachada (desaparecida) da segunda Sé, deu lugar ao prédio atual; e que o terceiro templo - a presente Sé Catedral de Olinda -, foi edificado pelo Arcebispo D. Miguel de Lima Valverde em 1919.
A igreja é dividida em três naves principais, formadas por uma arcada sobre colunas de pedra, que fecham as duas laterais (as capelas de São Salvador do Sacramento e do Santo Cristo) e a capela-mor, onde se encontra o sólio (cadeira) episcopal e as cadeiras dos cônegos, magnificamente entalhadas em jacarandá.
A capela do Santo Cristo é protegida por uma grade de balaustres de jacarandá, torneada até as cornijas das pilastras. O trabalho em talha é muito bom, tendo sido revestidas, as paredes da capela, de alguns painéis a óleo sobre madeira: um deles, representando a oração do Horto; e, três outros, retratando a flagelação de Cristo.
Nas naves laterais, existem cinco altares: dois na parte do Evangelho e, três, na Epístola. Toda a barra do templo foi feita com azulejos portugueses, pintados, representando certos fatos da História da igreja católica. Parte das paredes da antiga catedral, era revestida de azulejos portugueses do século XVII. Da azulejaria antiga, porém, só restaram nove fiadas inferiores (deslocadas) do mural da capela, ao lado do Evangelho. Os especialistas acreditam que, esses azulejos, faziam parte de um grande tapete de padrão policromo de desenho largo.
No interior da igreja, encontram-se colunas e arcos de cantaria. Em sua nave central, observa-se a introdução de aberturas superiores. Este detalhe arquitetônico, desde o início da Renascença, havia sido abandonado dos projetos da maioria das igrejas portuguesas. Dessa maneira, diferentemente dos demais templos lusos, a Sé mantém a tradição românico-gótica, onde a iluminação penetra por pequenas aberturas situadas na parte superior do prédio.
A sacristia do templo é grande e bem ornada, possuindo um móvel de jacarandá, com gavetas almofadadas, para a guarda dos paramentos, que abrange toda a largura da sala. Sobre esse móvel, encostado à parede, há uma peça entalhada em jacarandá, dividida por belas colunas retorcidas com ornamentação, com um nicho no centro e painéis a óleo. Cobrindo as paredes, encontram-se acostadas antigas molduras de jacarandá.
À esquerda da entrada lateral, há um pequeno cemitério privativo da comunidade, com oito sepulturas. Na capela-mor, em particular, descansam os restos mortais dos bispos D. Mathias de Figueiredo e Mello (em sepultura rasa), D. Francisco Xavier Aranha e D. João da Purificação Marques Perdigão (em jazidos existentes nas paredes). No interior da Sé, encontram-se as sepulturas dos seus bispos diocesanos, cujas inscrições foram bastante apagadas pelo tempo.
O teto da igreja é forrado por vinte e quatro painéis que evidenciam algumas passagens do Evangelho, tais como a partida do Egito e o desterro de Nossa Senhora; e, no forro da portaria, vê-se pintada a imagem de São Francisco enlaçando, nos cordões franciscanos, indivíduos de todas as classes sociais.
Teriam participado das obras de reconstrução da igreja o arquiteto Manuel Gonsalves Olinda, responsável pelos projetos de construção das igrejas e conventos Franciscanos de Recife e Ipojuca, e os engenheiros Francisco Frias da Mesquita (de origem portuguesa) e Baccio de Filicaya (de origem florentina).
A Sé de Olinda representou, durante três séculos, o centro da vida religiosa do Estado de Pernambuco.
No presente, o prédio da igreja possui três naves, que estão separadas entre si por colunas toscanas monolíticas. Mas, cabe ressaltar que, por volta do ano 1959, a capela-mor do templo era um viveiro de morcegos, que voavam em bandos quando o lugar recebia visitantes.
Em 1974, a Sé passou por uma nova restauração, desta feita por intermédio do Programa de Restauração das Cidades Históricas, criado pelo Ministro João Paulo dos Reis Veloso; e, em 1976, a Fundação Nacional de Arte de Pernambuco - Fundarpe – restituiu o estilo arquitetônico primitivo do templo.
A localização da Sé, na chapada da mais elevada colina da cidade, é magnífica e imponente. De lá, descortina-se uma bela paisagem, sendo possível visualizar tanto Olinda quanto o Recife. Em volta do templo, há lojas e muitos artesãos que vendem produtos e artefatos regionais - roupas, talhas, pinturas, comida, entre outros.
O espaço em torno da igreja encontra-se bem conservado, contando com vários quiosques de água de coco, e com mulheres, vestidas de baianas, que vendem tapiocas, queijo de coalho frito e bolinhos de acarajés, além de oferecerem outras deliciosas iguarias da cozinha pernambucana. A Sé de Olinda representa um ponto turístico obrigatório, para todos aqueles que visitam Pernambuco.
Fontes consultadas:
ALMANACH de Pernambuco. Recife: Imprensa Industrial, 1914, 17º ano. 1912, 1915.
DUARTE, Luiz Vital. Olinda na formação da nacionalidade. Recife: Imprensa Universitária da UFRPE, 1976.
FREYRE, Gilberto. Olinda: 2º guia prático, histórico e sentimental de cidade brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968.
MENEZES, José Luiz da Mota. Sé de Olinda. Recife: FUNDARPE, Diretoria de Assuntos Culturais, 1985.
MUELLER, Bonifácio. Olinda e suas igrejas: esboço histórico. Recife: Livraria Pio XII, 1945.
SÉ. In: GALVÃO, Sebastião de Vasconcelos. Diccionario chorographico, histórico e estatístico de Pernambuco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1927. v. S a Z. p. 92-101.
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado. Recife: Edição do Autor, 2002.
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