terça-feira, 19 de maio de 2009

IGREJA DE SANTA CECÍLIA, Recife, PE

IGREJA DE SANTA CECÍLIA (Recife, PE)
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco



Construída na mesma rua que a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja de Santa Cecília, sob a invocação de Santa Cecília - uma mártir romana e padroeira dos músicos -, localiza-se no começo da rua da Conceição, no bairro da Boa Vista.

O templo surgiu como uma capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Foi construída por Cristóvão de Barros Rêgo, em 1683. A construção ficava localizada em frente à casa de vivenda do fundador.

Segundo registros históricos, datados do final do século XVII, o local era um sítio de terras "junto à ponte onde tinha uma casa de sobrado, com árvores e quatrocentos pés de coqueiros de frutos, ou os que na verdade se achassem". A construção de uma capela, diga-se de passagem, representava o símbolo histórico brasileiro de iniciação populacional.

Em 1643, a ponte Maurício de Nassau (construída pelo holandês do mesmo nome), ligando a ilha de Antônio Vaz com o outro lado do rio, veio a consolidar o surgimento do novo bairro da Boa Vista. Ademais, os vários aterros que foram empreendidos - os aterros do Cassimiro, dos quais apareceram as ruas da Aurora, União, Saudade e Riachuelo; os aterros da Asseca, dando margem à existência do Parque 13 de Maio, da rua do Lima, e de suas proximidades; e o aterro da Boa Vista, de onde surgiu a rua da Imperatriz Teresa Cristina – ajudaram, também, a definir o bairro.

Na capela-mor da igreja de Santa Cecília, não está visível o sepulcro de Cristovão de Barros Rêgo. De acordo com os registros daquela época, sabe-se que ele foi sepultado na capela de Nossa Senhora da Conceição, "em uma sepultura aberta na parede da capela-mor, ao lado do Evangelho, selada com uma pedra em que se viam esculpidas as suas armas em relêvo". Cristovão de Barros Rêgo foi, inclusive, o grande incentivador do desdobramento urbano da Boa Vista, e o instituidor do Vínculo da Boa Vista.

O fundador daquela igreja, porém, foi agraciado pela Corte Lusa com o foro de cavaleiro da casa real, com o hábito de Cristo e a comenda lucrativa da mesma ordem, por ter servido contra os holandeses na campanha da restauração.

Com o falecimento de Cristovão, o Vínculo da Boa Vista passou a ser administrado por seu filho, João Marinho Falcão. Depois da metade do século XIX, com a extinção dos Vínculos e Morgados, o Vínculo de Nossa Senhora da Conceição dos Coqueiros é vendido a João Henrique da Silva e sua esposa, Josefa Maria dos Passos e Silva.

Após o loteamento das terras do antigo Vínculo, os descendentes dos últimos donos, doam a capela (praticamente, em ruínas) à Irmandade de Santa Cecília, no dia 31 de janeiro de 1882. Dezessete anos depois, a Irmandade teve condições financeiras para reconstruir a capelinha. Santa Cecília passa a ser a nova padroeira, protetora dos músicos e da Irmandade regedora.

Excetuando-se a primeira imagem de Santa Cecília, e a imagem de Nossa Senhora da Conceição, colocada em um nicho do altar-mor, nada mais resta da capela original.

No frontispício, é possível apreciar arcos ogivais e uma lira, e vêem-se as seguintes inscrições no interior do templo:

Jazigo perpétuo da família do maestro Pedro de Assis, lente cathedratico do Instituto Nacional de Musica do Rio de Janeiro. Recife, Maio, 1910. P.N.A.M.

Veneravel Irmandade de Santa Cecília, fundada em 1788. 1789-1840 – Funcionou na Igreja de S. Pedro dos Clérigos, transferindo-se nessa epocha para a Igreja de N. S. do Livramento. 1881 – Esteve erecta no templo de N. S. do Rosário da freguesia de S. Antonio, vindo d’alli para a matriz de S. José. 1898 – Por iniciativa do irmão monsenhor Augusto F. M. da Silva, installou-se nesta igreja de N. S. da Conceição dos Coqueiros, sendo-lhe então dada a posse da mesma. 1902 – Reconstruída pelo irmão Manoel Américo e outros. 1931 – Com valiosos donativos conseguidos, foram feitos neste templo radicaes serviços de pizo, tecto, alem de vários outros melhoramentos, pelos irmãos Antonio Amorim Rabello (juiz), prof. R. Piccolino Fischer Vieira (thesoureiro), Manuel A. Ferreira e o cidadão Arnaldo Guedes Pereira.

No plano urbanístico, já foi prevista a demolição da igreja de Santa Cecília, a fim de possibilitar o alargamento da rua da Conceição, pelo fato de esta ser, no presente, uma rua totalmente comercial.

Fontes consultadas:

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

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