quarta-feira, 20 de maio de 2009

SÍTIO DA TRINDADE, Recife

SÍTIO DA TRINDADE

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Situado no bairro de Casa Amarela, no Recife, o Sítio da Trindade representou um espaço importante no período da invasão holandesa (1630 – 1654). Ali, naquela área de terreno elevado, existiu o Forte Arraial do Bom Jesus, também chamado de Arraial Velho, que foi construído em taipa de pilão pelo general Matias de Albuquerque, entre 1630 e 1635. O Forte funcionou como um foco de resistência luso-brasileira contra os flamengos. Estes bombardearam e tomaram o Forte no ano de 1635.

Logo após o surgimento do Arraial Velho, o exército montou o seu acampamento nas redondezas, e uma população de cerca de mil pessoas, antigos habitantes de Olinda - que abandonaram as suas casas durante a presença batava – migraram para lá temerosos do que poderia vir a ocorrer. Dentre os residentes, por sua vez, havia um elevado número de eclesiásticos – franciscanos, em particular – que no Arraial erigiram um oratório, para celebrarem missas e empreenderam outros atos religiosos.

Por outro lado, rapidamente também surgiram barracas com vivandeiros, que montaram os seus negócios e, depois, erigiram estabelecimentos comerciais ao redor da fortaleza. Aquele local, para os portugueses, representava um ponto estratégico no sentido de impedir a entrada dos holandeses para o interior, rumo aos engenhos e às plantações de cana-de-açúcar que, na época, representavam as maiores riquezas da capitania de Pernambuco.

Com o aumento da população refugiada, e das crescentes dificuldades para se receber os gêneros alimentícios, todos os bois, cavalos, cães, gatos, entre outros, foram consumidos pelas pessoas famintas. Os especuladores aproveitaram a oportunidade e elevaram tanto o preço dos alimentos que os soldados só podiam consumir uma pequena porção de açúcar, uma espiga de milho e um pouco de farinha de mandioca, por dia.

Há registros, inclusive, de que, por ordem do comandante – o capitão André Marim - alguns comerciantes foram enforcados, uma vez comprovado o fato de que eles estavam tirando proveito daquela situação. No entanto, em decorrência dos ataques sofridos por parte dos inimigos, da falta de armamentos e de uma alimentação adequada, o Forte Real do Bom Jesus, apesar de todos os esforços empreendidos, capitulou em 1635.

Os portugueses levantaram, então, um novo forte, nas imediações da Madalena, que foi denominado de Forte Real do Bom Jesus, mas ficou sendo chamado de Arraial Novo, para se distinguir do anterior. Esse Arraial foi o quartel-general dos restauradores de 1646 a 1654, e, as suas ruínas ainda podem ser observadas na Avenida do Forte, no bairro de Torrões.

Em se tratando do Arraial Velho, alguns moradores voltaram depois àquele lugar, trataram de reparar as casas que haviam sido bombardeadas e construíram outras. Com o passar do tempo, porém, as terras foram divididas em diversos sítios e propriedades, surgindo novas ruas e estradas, assim como novas casas de vivenda.

Posteriormente, as terras do Arraial passaram às mãos da família Trindade Paretti. Por essa razão, o espaço ficou sendo chamado de Sítio da Trindade. Este Sítio possui um chalé com 600 metros quadrados de área construída, e abrange 6,5 hectares de área verde. Nele, algumas placas podem ser observadas. Em uma delas, lê-se:

Caminhando pelas terras deste sítio, estais pisando o solo em que se moveram Matias de Albuquerque e tantos outros heróis da luta contra o invasor.

Na frente de um obelisco de granito, com dois metros de altura - um marco comemorativo que foi inaugurado no dia 30 de janeiro de 1922 – percebe-se uma outra placa:

Aqui existiu o Forte Arraial do Bom Jesus (Arraial Velho) 1630 – 1635. Instituto Archeologico, 1922.

Existe ainda um monumento singelo de cimento, com um medalhão e uma placa, onde se encontra gravado:

Ao eminente naturalista José Pedro de Faria Neves, homenagem do povo do Recife.

Em 1952, o Sítio da Trindade foi desapropriado e declarado como um bem de utilidade pública. E, em reconhecimento à sua importância histórico-social, no dia 17 de junho de 1974, o local foi classificado como um conjunto paisagístico e tombado pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Fontes consultadas:

COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Arredores do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

RECIFE. Prefeitura da Cidade. O Recife, histórias de uma cidade. In: A CONQUISTA flamenga. Recife, 2000. Fascículo 2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário