PAULO CAVALCANTI
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Paulo Cavalcanti nasceu na cidade de Olinda, em Pernambuco, no dia 25 de maio de 1915, mas, aos cinco anos de idade, se mudou para o Recife: sua família foi morar na rua dos Prazeres, no bairro da Boa Vista.
O menino cursou o ensino fundamental no Grupo Escolar Manoel Borba e no Grupo Maurício de Nassau, sendo aprovado, depois, no Ginásio Pernambucano. Como os seus pais não tinham condições financeiras para matriculá-lo naquele estabelecimento de ensino, ele permaneceu algum tempo fora da escola: estudava em casa e lia muitos livros e revistas. Foi nessa época que começou a simpatizar com os feitos da Coluna Prestes. Segundo ele mesmo registrou, em seus livros de memórias, tal era a admiração sentida por Luís Carlos Prestes que, vê-lo em pessoa, ouvir sua voz, contemplar sua figura austera de guerrilheiro, bem como seu rosto de olhos meigos, emoldurado pela severa barba negra, representava para si uma verdadeira fortuna.
Em 1928, Paulo conseguiu o primeiro emprego: foi ser conferente de carga e descarga no Porto do Recife. E, à noite, com o seu salário, foi estudar no Ateneu Pernambucano, cujo sócio era Waldemar Valente, um dos seus primos. Pouco tempo depois, entretanto, teve que largar os estudos novamente: foi trabalhar na Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, no município de Salgueiro. Deste município, ele retornaria angustiado para o Recife, em 1932, afirmando jamais ter visto uma realidade tão miserável.
Consciente de que tinha de lutar contra os flagelos da fome, da seca e da injustiça, Paulo ingressou, em 1933, na Ação Integralista Brasileira (AIB), mas, logo entrou em conflito com a teoria e a prática dessa instituição, e solicitou o seu desligamento da mesma. Terminou sendo expulso de lá, acusado de ser um espião do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Nessa época, paralelamente, começou a escrever os primeiros artigos para o jornal O Ateneu.
A duras penas, em 1937, Paulo conseguiu refazer o curso médio em dois períodos letivos, sob o regime do Art. 100, e ingressou na Faculdade de Direito do Recife. Combatendo sempre as teses fascistas, atuou no Diretório Estudantil, passou a apoiar os estudantes de esquerda, e engajou-se na política contra o Estado Novo e o Governo de Agamenon Magalhães.
Pouco antes de se formar em Direito (em 1941), ele casava com uma prima, Maria Ofélia Figueiredo, indo trabalhar como secretário no Hospital Português. Um ano depois nascia Moema, sua primeira filha. Em 1943, assumia o cargo de promotor interino no município de Alagoa de Baixo (hoje, chamado de Sertânia), situado no sertão pernambucano; e, em fevereiro do mesmo ano, vinha Magnólia, sua segunda filha.
Paulo seria aprovado em um concurso, em 1946, e nomeado para assumir o cargo de promotor público, no município de Goiana. Junto com mais dois colegas, fundaria a Associação do Ministério Público de Pernambuco. Manteria contatos, também, com parlamentares do PCB, prestando-lhes assessoria em assuntos jurídicos.
No ano de 1947, candidatou-se a deputado estadual, mas só conseguiu ficar na 1a. suplência. O sonhado mandato foi assumido na vaga de Barros Barreto, quando este foi convocado para fazer parte do Governo de Barbosa Lima. Na mesma época, Paulo seria integrado no corpo de redatores do jornal Folha do Povo. Defendendo o mandato dos comunistas junto à Assembléia Municipal, ele protestou contra a prisão de Gregório Bezerra. Em abril de 1947, nasceu Carlos, o primeiro filho do casal; e, dois anos depois disso, o deputado solicitou a sua filiação ao PCB, que funcionava na ilegalidade.
Sendo reeleito deputado no período 1951/1954, Paulo defendeu os direitos de associação, de liberdade de opinião e de pensamento, fez oposição aos Governos de Agamenon Magalhães e Etelvino Lins; e participou da campanha da Frente do Recife, que elegeu Pelópidas Silveira pelo voto direto, no século XX, o primeiro prefeito do Recife. Mais tarde, se engajou na campanha de Cid Sampaio para a disputa do Governo de Pernambuco; articulou a candidatura de Miguel de Arraes de Alencar para a sucessão de Pelópidas, junto à Prefeitura da Cidade (tendo redigido, inclusive, um manifesto, defendendo a candidatura daquele); e assumiu a Direção do Porto do Recife.
Após a renúncia do Presidente Jânio Quadros, em 1961, apoiou a posse de João Goulart, o Vice-Presidente que os militares tentavam impedir de assumir o Governo, junto com o PCB e os movimentos de esquerda. Com o advento do Golpe Militar de 1964, ele foi acusado de ser "esquerdista, comunista e comunizante"; preso (várias vezes) e aposentado, compulsoriamente, através do Ato Institucional no. 2.
Mesmo mantido sob a vigilância do Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS) e da 2a. Seção do IV Exército, ele atuava como advogado da chamada "cúpula comunista" - a direção estadual do PCB, os líderes das Ligas Camponesas e a direção dos sindicatos de trabalhadores - da qual constavam os presos políticos Gregório Bezerra, Miguel Arraes, e Pelópidas Silveira, todos acusados de subversão. Sobre esses anos sombrios, ele registraria, em seu livro de memórias:
Estes dezoito anos de ditadura militar não devem fluir sem o crivo da maldição daqueles que presenciaram e sofreram o massacre de milhões de homens e mulheres, direta ou indiretamente atingidos pelo arbítrio – tanto nos porões das câmaras de tortura como sob o açoite da exploração econômica, que é outra forma de violência aos direitos humanos.
Cabe ressaltar que Paulo Cavalcanti era amigo de vários escritores, poetas e artistas pernambucanos, a exemplo de Gilberto Freyre, Mauro Mota, Nilo Pereira, Ascenso Ferreira, Abelardo da Hora, Ladjane Bandeira, Luiz Delgado, Aderbal Jurema, e Valdemar de Oliveira.
Eleito vereador do Recife pelo PCB, em 1992, ele continuou atuando em prol dos interesses populares e das camadas menos favorecidas da população. Além de político, jornalista e advogado, Paulo se destacou, inclusive, como escritor, tendo produzido vários trabalhos importantes, a exemplo de Eça de Queiroz: agitador no Brasil, publicado em 1959, que ganhou notoriedade nacional ao ser premiado pela Academia Pernambucana de Letras e pela Câmara Brasileira do Livro; além das obras O caso eu conto como o caso foi – memórias políticas, 1o. volume de memórias (1978); O caso eu conto como o caso foi, 2o. volume de memórias (1980); Nos tempos de Prestes (1981/1982); A luta clandestina, 3o. volume de memórias (1984/1985); Homens e idéias do meu tempo (1993); Vale a pena (ainda) ser comunista (1994); História de um governo popular e Os equívocos de Caio Prado Júnior.
Ao completar 80 anos, no dia 25 de maio de 1995, ele foi homenageado por muitos amigos e admiradores. No entanto, o coração do ilustre pernambucano, que havia sido operado quase duas décadas antes, já vinha dando provas de um desgaste irreversível. Seis dias após a festa (no dia 31 de maio), Paulo Cavalcanti faleceu no Recife. O seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa e enterrado no Cemitério de Santo Amaro. Emocionadas, centenas de pessoas vieram acompanhar o sepultamento e jogaram rosas vermelhas em seu túmulo.
Fontes consultadas:
CAVALCANTI, Paulo. Nos tempos de Prestes (o caso eu conto, como o caso foi). 3o. v. Memórias políticas. Recife: Editora Guararapes, 1982.
ÍCONES de Pernambuco. Jornal do Commercio, Recife, fascículo 5 [encarte], 29 abr. 2004.
JORGE NETO, Nagib. Elogia da resistência: evocação a Paulo Cavalcanti. Perfil Parlamentar Século XX. Recife: Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, 2001.
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