domingo, 17 de maio de 2009

CÍCERO DIAS

CÍCERO DIAS

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


"Verde é a cor da minha memória"

Cícero Dias nasceu no dia 5 de março de 1907, no Engenho Jundiá, no município de Escada, em Pernambuco. Foi o sétimo, dos onze filhos de Pedro dos Santos Dias e Maria Gentil de Barros e, ainda, pelo lado materno, neto do Barão de Contendas. Aos 13 anos de idade, foi para o Rio de Janeiro. Surpreendendo os seus familiares, decidiu tornar-se um pintor.

Em 1928, porém, na Cidade Maravilhosa, nenhuma galeria de arte se interessava por arte moderna. Neste sentido, a primeira exposição de Cícero - o mural Eu vi o mundo, que possuía quinze metros de largura - teve lugar em um hospício: foi o único espaço disponível que se conseguiu. Três anos depois, entretanto, ele abriria uma exposição no Salão de Belas Artes, a convite do pintor Di Cavalcanti. Rompendo com a escola clássica, as exposições e trabalhos do artista geravam debates e escândalos, já que poucos os entendiam. Inclusive, houve o caso de um homem que, com o auxílio de uma navalha, tentou destruir as suas obras.

Cícero Dias era amigo de Gilberto Freyre e, com o antropólogo, relembraria o seu passado de menino criado em engenho. Por ser simpatizante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o artista foi perseguido em 1937, quando o então Presidente Getúlio Vargas instalou a ditadura do Estado Novo. E, várias vezes, ele teve o ateliê invadido por tropas policiais. Por essa razão, desgostoso com a realidade, o artista decidiu se mudar para Paris. Nesta cidade, em 1943, ele se casaria com a francesa Raymonde e teria uma filha.

Durante a II Guerra Mundial, cabe registrar também que, por ser brasileiro, depois que o País rompeu relações diplomáticas com a Alemanha nazista e a Itália fascista, Cícero foi preso na cidade alemã de Baden-Baden, juntamente com o escritor João Guimarães Rosa, que fazia parte do mesmo grupo de detentos. Felizmente, entretanto, este grupo foi trocado por espiões nazistas que estavam encarcerados no Brasil.

Cícero Dias foi o autor do primeiro mural abstrato da América Latina. O mural, elaborado em 1948, foi pintado no prédio da Secretaria da Fazenda de Pernambuco. Apesar de viver tão longe do Recife, os seus canaviais, casas-grandes, sobrados, bem como o rio Capibaribe e o mar de Boa Viagem, sempre estavam presentes no imaginário do pintor. Na década de 1960, ele produziria várias telas com retratos de mulheres. Depois dessa fase, pintaria flores, paisagens e personagens diversos.

Em sua primeira fase artística, Cícero Dias privilegiou aquarelas e óleos, e produziu os seguintes quadros: Sonho de uma prostituta (1930-1932), Engenho Noruega (1933), Lavouras (1933), Porto (1933) e Ladeira de São Francisco (1933). Durante a segunda fase (1936-1960), onde prevaleceram a figuração e a abstração, se destacaram as seguintes obras do artista plástico: Mulher na janela (1936), Mulher na praia (1944), Mulher sentada com espelho (1944), Composição sem título (1948), Exact (1958), Entropie (1959). Por fim, em sua terceira fase (1960-2000), onde a mulher era um símbolo constante, ele pintaria a Composição sem título, em 1986.

Considerado como um dos pioneiros do modernismo no Brasil, Cícero Dias foi amigo de vários artistas modernistas, tais como o compositor Heitor Villa-Lobos, o artista plástico Ismael Nery e o poeta Murilo Mendes. E, na França, fez amizade com várias personalidades ilustres, a exemplo dos poetas André Breton e Paul Eluard, e do pintor Pablo Picasso, que se encontrava asilado em Paris antes do fim da Guerra Civil Espanhola. Este último tornara-se padrinho de sua filha e, junto a ele, Cícero acompanharia a elaboração do quadro Guernica, o famoso épico sobre aquela guerra. Além disso, pode-se dizer que Picasso exerceu uma influência marcante nos trabalhos do artista pernambucano.

No ano 2000, o pintor esteve no Recife para uma justa homenagem: a inauguração de uma praça com o seu nome. Vale lembrar, contudo, que o logradouro público foi projetado pelo próprio artista. E, em fevereiro de 2002, ele retornaria ao Recife para o lançamento do livro Cícero Dias:uma vida pela pintura, de autoria do jornalista Mário Hélio. Na ocasião, expôs algumas de suas obras na Galeria Portal, em São Paulo. Neste mesmo ano, aos 93 anos de idade, inspirado em sua obra Eu vi o mundo ele começava no Recife, o artista criaria um trabalho relevante para o Recife: o piso da Praça do Marco Zero, uma bela e enorme rosa dos ventos plantada no centro da cidade.

O artista plástico conservou-se lúcido, saudável e produtivo até o fim de sua vida. No dia 28 de janeiro de 2003, aos 95 anos, ele faleceu em sua casa, na Rue Long Champ, em Paris, onde residia há quarenta anos. Junto ao pintor, estavam presentes a esposa, Raymonde, a única filha, Sylvia, e seus dois netos. Cícero Dias foi sepultado no cemitério de Montparnasse, na capital francesa.


Fontes consultadas:

CÍCERO Dias. Disponível em: Acesso em: 6 ago. 2005.

GALERIA. Disponível em: Acesso em: 6 ago. 2005.

ÍCONES de Pernambuco. Recife: Jornal do Commercio, Recife, fascículo 2, 2004.

PEREIRA, Marcelo. Modernismo vira a última página. Jornal do Commercio, Recife, 29 jan. 2003. Caderno C, p. 1.

PINTOR pernambucano Cícero Dias morre aos 95 anos em Paris. Folha Online, Recife, 28 jan. 2003. Disponível em: . Acesso em: 6 ago. 2005.

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