domingo, 17 de maio de 2009

CONVENTO FRANCISCANO DE SANTO ANTÔNIO, Recife

CONVENTO FRANCISCANO DE SANTO ANTÔNIO (Recife)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Sétimo convento franciscano erigido no Brasil, e o quarto sob a invocação de Santo Antônio de Lisboa, o Convento Franciscano de Santo Antônio talvez seja uma das obras mais antigas do Recife. No dia 28 de outubro de 1606, os frades franciscanos de Olinda decidiram construir um convento para atender à população presente no Arrecife (antiga denominação do Recife) e que transitava em volta do seu porto.

Para tanto, os frades aceitaram a oferta de um senhor de engenho, Marcos André, que doou 56 braças de terra para a edificação de um convento, na ilha dos Navios. Posteriormente, tal ilha foi chamada de Antônio Vaz, em homenagem a um português que, até o ano de 1605, exerceu no Recife as funções de "Porteiro da Alfândega do Recife" e de "Juiz das Execuções". Essa ilha, tempos depois, transforma-se no atual bairro de Santo Antônio.

Em 1613, o frei Bernardino de Jesus dá por concluída a construção de um primitivo hospício e de seu oratório, perto da Praça da República, e o mesmo é chamado de Santo Antônio, o santo lisboeta padroeiro do Recife.

Durante a invasão holandesa, na terceira década do século XVII, o templo é cercado por muralhas e transformado em uma fortificação retangular, comportando quatro baluartes e dezenove canhões de vários calibres: passa a ser o Forte Ernestus.

O lugar volta a ser utilizado como templo, a partir de 1640. Desta feita, entretanto, o convento se encontra voltado para os serviços religiosos da igreja anglicana, isto é, dirige-se aos militares que falam a língua inglesa e trabalham na Companhia das Índias Ocidentais. Nessa época, o Convento de Santo Antônio ganha uma torre com um relógio.

Após a expulsão dos flamengos, o convento volta a ser propriedade dos franciscanos. Dá-se início, então, às obras para a sua reparação e para o acréscimo da ala da enfermaria. Vale ressaltar que, nos dias atuais, esse terreno é ocupado pelo Palácio da Justiça.

Dando continuidade às reformas, nos primeiros anos do século XVIII, os franciscanos substituem a capela original pela Casa de Exercícios. Neste lugar, os Irmãos da Terceira Ordem erguem a sua igreja principal, ampliada a partir de 1753, que vem a se chamar Casa do Noviciado. De acordo com as gravações no arenito da fachada, as obras do novo templo se estendem até o ano de 1770.

Conservando as linhas principais do século XVIII, o convento e a sua igreja formam, no presente, um conjunto harmonioso, com magníficos detalhes. A capela-mor, por exemplo, encontra-se iluminada por uma clarabóia e possui uma cúpula semi-esférica, recoberta por azulejos portugueses policromados - azul, amarelo, verde e branco -, do tipo tapetes (do século XVII), que formam desenhos com motivos florais. No templo, pode-se apreciar belas talhas douradas e pinturas no teto. A pintura da nave central foi obra do artista Sebastião Canuto da Silva Tavares.

Grandes painéis em azulejos D. João V, presentes no corpo da igreja, reproduzem episódios da vida de Santo Antônio, bem como os seus milagres. Um gradil de ferro é utilizado para separar a nave central do templo da Capela Dourada da Ordem Terceira de São Francisco.

Na portaria, é possível se apreciar um Cristo Crucificado e, na sala de visitas, estão expostos belos móveis de jacarandá, assim como cadeiras de palhinha. Três belos painéis de azulejos podem ser admirados: os mártires de Ceuta, os mártires do Japão e os mártires de Gorcum (Holanda).

Além desses, mais vinte e sete quadros de azulejos, com episódios do Gênesis, se encontram no cláustro inferior e nos corredores: a criação do mundo, Adão e Eva e o paraíso, a queda, a expulsão do Éden, a morte de Adão, Caim e Abel, a torre de Babel, Noé, o dilúvio, Abrãao, Henoque, entre outros.

Na sacristia vêem-se repositórios, cômodas, lavabos e vários quadros pintados a óleo. Possuindo puxadores em prata, os móveis foram confeccionados pelo mestre setencentista José Gomes de Figueiredo, o mesmo que foi responsável pela fabricação dos armários embutidos, presentes nas demais igrejas pernambucanas. Essas peças medem 3,20m por 2,13m, possuem 48 gavetas quadradas e superfícies que são, alternadamente, côncavas e convexas.

Conforme observado na maioria das igrejas antigas, atrás da sacristia há um pequeno cemitério. No pátio (bastante pequeno, também), ergue-se um cruzeiro de pedra, cercado por um gradil, que foi colocado ali em 1840.

Na metade do século XX, durante algumas reformas que foram realizadas, encontrou-se uma bela faixa de azulejos entre o claustro superior e inferior, por cima das arcadas. Esses azulejos são de origem flamenga (produzidos em Delft, na Holanda) e, acredita-se, faziam parte do acervo do Forte Ernestus. Neles, foram pintados uma grande variedade de desenhos: golfinhos, cavalos, flores, baleias, leões, lebres, javalis, elefantes, cervos, sereias, monstros, veleiros, vasos floridos, cavaleiros, crianças brincando.

Além de representar a maior coleção de azulejos, da época da presença holandesa no País, se constitui, ainda, em um dos mais conservados e respeitados acervos do Patrimônio Histórico e Artístico do Brasil.

Na capela do Convento de Santo Antônio há quatro painéis de azulejos, com legendas em português arcaico, cujos temas dizem respeito ao rosário de Nossa Senhora. Os painéis são os seguintes:

- A Batalha contra os Mouros
- A Árvore dos Rosários
- A Mulher no Poço
- A Peste de Coimbra (no altar-mor)

O púlpito do convento é de autoria de Francisco Manuel Béranger, natural de Nantes (França), que chegou ao Recife em 1816. São famosos, inclusive, e levam o seu nome, os conjuntos de canapé e cadeiras de braço e de guarnição, presentes no templo, conhecidos como estilo Béranger (ou, também, pernambucano).

O convento expõe o emblema da Ordem dos Frades Menores, seu frontispício apresenta esculturas de arenito, contendo cinco arcos de pedra lavrada, e existe uma torre recuada em seu lado esquerdo. Ao lado do Palácio da Justiça, na parte voltada para a rua do Imperador D. Pedro II, foi colocada uma placa com os seguintes dizeres:

Neste local existiu o Forte Ernesto levantado pelos holandeses no século XVII (Memoria do Inst. Archeologico).


Fontes consultadas:

BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco: guia aos monumentos históricos de Olinda e Recife. São Paulo: Fundo Educativo Brasileiro, 1983 .

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco. Recife: [s. n.], 2002.

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