Dorival Caymmi nasceu em Salvador, Estado da Bahia, no dia 30 de abril de 1914. Por contingências familiares, ele precisou interromper os estudos no 1o. ano ginasial (atual 5a. série do ensino fundamental), indo trabalhar como auxiliar de escritório e, posteriormente, como caixeiro-viajante. Nessa época, sozinho, o rapaz aprenderia a tocar violão, desenvolvendo um estilo bonito e peculiar.
No início de sua carreira profissional, ele exercia, ainda, as profissões de jornalista e de cantor, junto à Rádio Clube da Bahia. Em 1936, o jovem baiano ganhava um concurso de músicas carnavalescas; e, incentivado pelos amigos, ao invés de fazer o curso preparatório para a Faculdade de Direito, seguiu a profissão de músico.
Com pouquíssimo dinheiro no bolso, em 1938, Caymmi decidiu ir morar no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, levado por Lamartine Babo e Assis Valente, estreava na Rádio Nacional com a sua música Noite de temporal. Em seguida, era contratado pela rádio Tupy, onde iniciava a vida artística cantando No tabuleiro da baiana.
Depois disso, o compositor seria convidado pelo cineasta Lawrence Downey para, com uma de suas músicas, substituir Carmem Miranda. Neste sentido, a composição O que é que a baiana tem passava a integrar o filme Banana-da-terra. E, em fevereiro de 1939, através da Odeon, o baiano gravava seu primeiro disco com aquela cantora.
Cabe ressaltar que dois fatos marcantes contribuiriam, positivamente, na carreira do compositor: o primeiro deles representou o fato acima registrado; e, o segundo, foi a inserção de uma outra composição sua - O mar - no repertório de um espetáculo promovido por Darcy Vargas, esposa do então presidente Getúlio Vargas. Dali em diante, Caymmi passaria a vivenciar um período de êxito. Por outro lado, foi na Rádio Nacional que ele conheceu a caloura Stella Maris, moça com a qual se casou em 1940 e teve três filhos - Dory, Naná e Danilo. Como o pai, eles também seguiriam a carreira de músicos.
Dorival Caymmi sempre foi bom cozinheiro e grande conhecedor dos mistérios da culinária baiana. Visando enaltecer a sua experiência, ele comporia um samba sui generis, descrevendo as etapas da elaboração de um vatapá:
Quem quiser vatapá, oi,
Que procure fazer primeiro o fubá,
Depois o dendê...
Em 1947, a composição Mariana inaugurava a sua fase de samba-canção. Depois dessa, vinha Marina, um samba mais lento e sofisticado que começava assim:
Marina, morena, Marina, você se pintou,
Marina, você faça tudo, mas faça um favor...
Na década de 1950, Caymmi comporia a música Só louco, um outro lindo samba-canção onde afirmava:
Só louco, amou como eu amei,
Só louco, quis o bem que eu lhe quis...
Um dos seus sambas mais conhecidos, porém, foi a música Rosa Morena, que o cantor João Gilberto transformaria de novo em sucesso, muitos anos depois, ao regrava-lo no início da década de 1960:
Rosa, Morena, onde estás Morena Rosa,
Com essa rosa nos cabelos
E esse andar de moça prosa,
Ô Rosa, Morena, Morena Rosa...
Vale ressaltar que, apesar de o artista haver composto e interpretado um repertório considerável de músicas, foram as suas canções praieiras - aquelas que exaltavam as belezas da Bahia - as que mais se destacaram no cancioneiro popular brasileiro. Atualmente, mesmo com mais de 90 anos e acometido por problemas cardíacos, Dorival Caymmi ainda canta em público ao lado dos seus filhos.
As composições que mais celebrizaram o artista são as seguintes: É doce morrer no mar; A lenda do Abaeté; Marina; Promessa de Pescador; Saudade de Itapoã; João Valentão; Dora; Rosa Morena; Maracangalha; Saudades da Bahia; Sábado em Copacabana; Não tem solução; Quem vem pra beira do mar; Doralice; Nem eu; O vento; 365 igrejas; Lá vem a baiana; Dona Chica; Suíte dos pescadores; Dois de fevereiro; Samba da minha terra; A jangada voltou só; Nunca mais; Eu chego lá; Só louco; Oração pra Mãe Menininha; Juliana; Canto de Obá; Eu não tenho onde morar; e Das rosas.
Para os admiradores de Caymmi, transcrevem-se, abaixo, duas belas composições suas:
A Jangada voltou só
A jangada saiu com Chico Ferreira e Bento,
A jangada voltou só.
Com certeza foi lá fora um pé de vento,
A jangada voltou só.
Chico era o boi do rancho,
Nas festas de Natal,
Não se ensaiava o rancho,
Sem com o Chico se contar.
E agora que não tem Chico,
Que graça que pode ter,
Se Chico foi na jangada,
E a jangada voltou só...
A jangada saiu com Chico Ferreira e Bento,
A jangada voltou só.
Com certeza foi lá fora um pé de vento,
A jangada voltou só...
Bento cantando modas,
Muita figura fez.
Bento tinha bom peito,
E pra cantar não tinha vez.
As moças de Jaguaripe,
Choraram de fazer dó,
Seu Bento foi na jangada,
E a jangada voltou só.
Rosa Morena
Rosa Morena, onde vais morena Rosa,
Com essa rosa no cabelo e esse andar de moça prosa, morena, morena Rosa,
Rosa morena o samba está esperando, esperando pra te ver
Deixa de lado esta coisa de dengosa, anda Rosa, vem me ver,
Deixa de lado esta pose, vem pro samba, vem sambar,
Que o pessoal está cansado de esperar, Oh! Rosa,
Que o pessoal está cansado de esperar, morena Rosa,
Que o pessoal está cansado de esperar, viu Rosa.
Ao longo de décadas, Dorival Caymmi vem contando e cantando a vida dos pescadores, das praias, do mar, dos orixás, das igrejas, e das morenas da Bahia. Sem dúvida alguma, a qualidade de sua produção musical, e o seu estilo inimitável, lhe garantiram um espaço privilegiado no cenário dos maiores compositores brasileiros.
Dorival Caymmi faleceu no dia 16 de agosto de 2008, aos 94 anos, em sua casa, no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro.
Fontes consultadas:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dorival Caymmi: um breve panorama de sua obra discográfica através de sua vida. Cultura, Brasília, a. 4, n. 14, p. 96-103, jul./set. 1974.
DORIVAL Caymmi. Disponível em:
Acesso em: 23 mar. 2005.
DORIVAL Caymmi. Disponível em:
Acesso em: 23 mar. 2005.
DORIVAL Caymmi. Disponível em:
DORIVAL Caymmi. Disponível em:
DORIVAL Caymmi (1914). Disponível em:
DORIVAL Caymmi. Disponível em:
INDICE geral das musicas no MPBNet. Disponível em:
LETRAS de músicas. Disponível em:
Acesso em: 1º maio 2005.
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