ENCRUZILHADA (bairro, Recife)
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
A denominação de Encruzilhada deve-se ao fato de, por ali, terem apitado e cruzado os trens provenientes do Recife, de Beberibe e de Olinda. Em 1915, os trens foram substituídos por bondes elétricos da Pernambuco Tramways.
Naquela localidade, havia um curral onde descarregavam os trens que vinham do interior do estado de Pernambuco, carregados de bovinos e suínos. Nesse curral, os animais passavam um certo tempo para a engorda e, depois, eram enviados para o Matadouro de Peixinhos através da Estrada de Belém.
Em 1927, uma pequena aeronave - a Jahú - veio da Itália para o Brasil, fazendo escala em Fernando de Noronha. Seus tripulantes eram Ribeiro de Barros, Cinquini, Newton Braga e o capitão Negrão. No Recife, uma semana de grandes recepções foi oferecida aos aviadores. E foi erguido na Encruzilhada, em homenagem aos tripulantes da aeronave, um monumento de oito metros de altura: uma coluna em estilo dórico, tendo em seu topo um globo terrestre e, acima dele, uma águia. Na base da coluna lia-se o seguinte:
Raid Genova-Santos. À heróica tripulação do JAHÚ, homenagem do povo da Encruzilhada. Recife, 25-9-1927.
No presente, um dos locais mais freqüentados do bairro é o Mercado da Encruzilhada, pois lá é possível se achar quase tudo: verduras e frutas, peixes, aves, carnes bovina e suína, bem como outros alimentos e produtos.
A construção do Mercado foi iniciada em março de 1924. O prédio continha 162 compartimentos, com calçamento de paralelepípedos de granito rejuntados a asfalto. E as paredes dos boxes destinados à venda de carne eram forradas com azulejos (até determinada altura), conforme as regras oficiais de higiene da época.
Posteriormente, foram realizadas obras de urbanização no largo defronte do Mercado. Em 1951, houve uma reestruturação do prédio: entre outros melhoramentos, foram construídas salas para a administração (no pavimento superior).
No final dos anos de 1940, o bairro possuía uma Biblioteca Popular, administrada pela Prefeitura do Recife, contando com muitos livros técnicos e didáticos, periódicos nacionais e estrangeiros, além de um elevado contingente de usuários.
Há décadas atrás, sempre nos meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro, para a Encruzilhada convergia um grande número de pessoas, transportadas por maxambombas e, depois, por bondes, visando participar do seu famoso Pastoril. Este folguedo natalino, realizado em barracas de lona, destacava-se pela beleza de suas pastoras e, em especial, pela presença do mulato Herotildes. Ao redor das barracas havia ainda muita animação, com a venda de comidas e bebidas típicas.
No Largo da Encruzilhada cruzam-se, hoje, as importantes avenidas João de Barros e Beberibe, a Estrada de Belém e as ruas José Maria e Castro Alves.
Fontes consultadas:
BOLETIM DA CIDADE E DO PORTO DO RECIFE, Recife, n.19-34, jan./dez. 1946-1949.
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal do Recife, 1998.
DOCUMENTÁRIO de uma administração: governo Barbosa Lima Sobrinho - fevereiro, 1948, janeiro, 1951. [Recife, 1951?]
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos. Diccionario chorografico, histórico e estatístico de Pernambuco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908. 4 v.
MERCADO da Encruzilhada. Revista de Pernambuco, Recife, ano. 1, n. 2, ago. 1924. (Não paginada) .
Nenhum comentário:
Postar um comentário