domingo, 17 de maio de 2009

CLUBE DAS PÁS

CLUBE DAS PÁS (Recife)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


O Clube das Pás é um dos grandes clubes carnavalescos de Pernambuco. Sobre a origem e trajetória do clube, um dos seus presidentes - Antônio Rodrigues da Costa, apelidado de Antônio Português - concedeu, certa vez, uma entrevista e narrou alguns dados registrados a seguir.

No primeiro dia de carnaval de 1887, no Porto do Recife, situado no bairro do Recife, estava fundeado um navio inglês aguardando o carregamento de carvão e alimentos. Havia escassez de mão-de-obra, e estava difícil se encontrar carvoeiros que abastecessem a embarcação. Esta, por sua vez, podia ficar apenas doze horas atracada no porto. Sem alternativa, a agência do navio ofereceu uma quantia maior de dinheiro àqueles carvoeiros que aceitassem trabalhar. E, somente assim, o navio pôde ser carregado e zarpar dentro do horário previsto.

Bastante felizes com o montante recebido, os carvoeiros foram comemorar no Clube dos Caiadores. Lá, entre uma dança e outra, decidiram criar o Bloco das Pás de Carvão. Entre os fundadores do Bloco estavam: Francisco Ricardo Borges, Manoel Ricardo Borges, João da Cruz Ferreira e João dos Santos. E, para a sede do Bloco, compraram, por seis mil cruzeiros, um terreno de propriedade do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória do Recife, Conceição de Olinda e Sagrado Coração de Jesus de Igarassu.

O Bloco das Pás de Carvão desfilou nos carnavais de 1888, 1889 e 1890. Em março do último ano, porém, mudou o seu nome para Clube Carnavalesco Misto das Pás. A primeira notícia impressa sobre ele saiu publicada no dia 4 de março de 1905, no jornal Diario de Pernambuco. Por sua vez, a cada 13 de Maio - dia da Abolição da Escravatura - o clube realizava uma passeata pelo Recife, em homenagem ao pernambucano e abolicionista Joaquim Nabuco.

Muitos clubes carnavalescos são oriundos de corporações de operários urbanos, e impregnados de elementos presentes nas procissões religiosas, que foram proibidos pelas autoridades eclesiásticas. Entre os elementos transplantados se encontram cordões de lanceiros, mascarados, diabos, balizas, bobos, morcegos e damas de frente. Dessa forma, no final do século XIX e início do século XX, surgiram no Recife os seguintes clubes de carnaval: Clube das Pás (1888), Vassourinhas (1889), Lenhadores (1889), Toureiros de Santo Antônio (1914), Pão Duro (1916), Pavão Misterioso (1919), entre outros.

A abertura dos desfiles é feita pelo diretor do clube. Ele entra vestido de fraque e com uma cartola na cabeça, e conta com a presença de balizas, porta-estandartes, morcegos, passistas, comissão de frente, dois cordões de homens e mulheres, todos eles fazendo evoluções. No final, vem a orquestra tocando músicas de frevo.

O Clube das Pás possui o estandarte mais antigo, que data do começo do século XX. O primeiro deles foi confeccionado em veludo, acolchoado de algodão, forrado com cetim e bordado com fios de ouro. O desenho do estandarte ficou a cargo de Manoel de Matos, sendo que as Monjas Beneditinas do Convento do Monte de Olinda o confeccionaram. No desenho estão evidenciadas folhas de acanto e outros elementos barrocos, o monograma do Clube, além de franjas e pingentes dourados. Observam-se, também, duas máscaras e uma boneca fabricada em porcelana francesa. Esta boneca parisiense foi trazida por antigo porta-estandarte, o alfaiate Manuel das Chagas, um grande folião. O atual estandarte foi confeccionado por Maria do Monte, uma antiga aluna e bordadeira das Monjas do Convento de Nossa Senhora do Monte de Olinda, em 1980.

O Clube das Pás representa o mais tradicional espaço de gafieira do Estado de Pernambuco; e, além de frevos de carnaval, sua orquestra toca rumbas, salsas, merengues, forrós, tangos, boleros e sambas. Desde 2004, Eraldo Gomes do Rego é o Presidente do Clube e, Zene dos Anjos Bezerra, seu Vice-Presidente. Existe, ainda, uma Diretoria Executiva e um Conselho Deliberativo.

Conhecido há muitas gerações, o Clube das Pás foi citado em alguns frevos, a exemplo de Voltei Recife, música composta por Luís Bandeira, que veio enriquecer o folclore do Nordeste brasileiro. Sua letra é a seguinte:

Voltei, Recife
Foi a saudade que me trouxe pelo braço,
Quero ver novamente Vassoura
Na rua abafando,
Tomar umas e outras
E cair no passo.
Cadê Toureiros?
Cadê Bola de Ouro?
As Pás, Os lenhadores,
O Bloco Batutas de São José?
Quero sentir
A embriaguez do frevo,
Que entra na cabeça
Depois toma o corpo
E acaba no pé.

O Clube das Pás funciona na Rua Odorico Mendes, número 263, em Campo Grande, sendo aberto ao público durante cinco dias da semana. Eis a sua agenda: 1. Segunda-feira: Festa da Terceira Idade (18:00 horas às 22:00 horas); 2. Quarta-feira: Quarta-Dançante (18:00 horas às 22:00 horas); 3. Sexta-feira: Pás nas Sextas (22:00 horas às 4:00 horas); 4. Sábado: Sábado nas Pás ( 22:00 horas às 4:00 horas); 5. Domingo: Tradicional Domingo Alegre (17:00 horas às 22:00 horas).
Quem quiser conferir a popularidade daquele Clube, basta comprar um ingresso e “cair na gafieira”. É diversão na certa!


Fontes consultadas:

ATAÍDE, José. Olinda, carnaval e povo. Olinda: Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda, 1982.

CLUBE das Pás. Disponível em: Acesso em: 16 dez. 2008.

CLUBE das Pás. Olinda/PE. Disponível em: Acesso em: 16 dez. 2008.

FREVO completa 100 anos: trabalhadores e negros pernambucanos marcam as origens dessa história. Disponível em: Acesso em: 16 dez. 2008.

RABELLO, Evandro. Clube das Pás: 95 anos de carnaval. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Centro de Estudos Folclóricos, n. 156, mar. 1985. (Série Folclore)

SILVA, Leonardo Dantas. Porta-estandarte, presença medieval no carnaval de Pernambuco. In: Antologia pernambucana de folclore. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 1988.
SOUTO MAIOR, Mário; VALENTE, Waldemar. Antologia pernambucana de folclore. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Ed. Massangana, 1988.

Um comentário:

  1. Uma sugestão, gosto muito de dançar, ja fui varias vezes aí, gostei muito, pena que eu vejo muitas senhoras doida para dançar, mais fica o tempo todo na cadeira porque os homens procura as mulheres mais nova, a terceira idade não tem vez, se o baile é para todas , não deveria ter descriminação,abraços. e desculpa aí tá.

    ResponderExcluir