segunda-feira, 18 de maio de 2009

DENGUE

DENGUE

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


O dengue é uma doença febril aguda, de etiologia viral, que vem afetando bastante a população dos países tropicais e subtropicais, tanto no verão quanto após os períodos chuvosos. Essa doença constitui-se em um sério problema de saúde pública, uma vez que o clima e os hábitos urbanos criam condições favoráveis ao desenvolvimento e à proliferação dos mosquitos que a propagam.

O dengue é transmitido por duas espécies de mosquitos – o Aëdes aegypti e o Aëdes albopictus - que picam somente durante o dia, contrariamente ao mosquito comum, o Culex, que pica durante a noite.

Os insetos transmissores criam-se em águas limpas, proliferando-se dentro ou nas proximidades das habitações ou de recipientes coletores de água - caixas d'água, cisternas, latas aberta, pneus velhos, ou vasos de plantas. Os depósitos de pneus usados, em particular, bem como as bromélias - plantas que formam uma espécie de cálice, e que acumulam água em sua parte central - costumam servir como excelentes criadouros de mosquitos. Apesar da transmissão da doença ser mais comum nas cidades, ela pode ocorrer, também, em áreas rurais. Entretanto, é bastante rara em localidades com altitudes superiores a 1.200 metros.

Primeiramente, as fêmeas põem seus ovos dentro de qualquer container que possa acumular água, e eles aderem às suas paredes, ao mesmo tempo em que permanecem próximos da água. Ainda que o recipiente seque, os ovos não morrem. Portanto, não adianta, apenas, substituir a água contaminada por outra limpa. Mesmo que se faça isso, dos ovos aderentes sempre surgem as larvas que, depois de certo tempo, vão dar origem a novos mosquitos.

De acordo com os registros oficiais, o dengue foi relatado, pela primeira vez, em 1779, na ilha de Java; e, em 1782, em Cuba. No Brasil, há referências sobre essa doença desde 1846. A primeira epidemia documentada clínica e laboratorialmente, porém, ocorreu em Boa Vista/Roraima, no ano de1981. Uma outra epidemia de grande magnitude ocorreu no Rio de Janeiro, em 1986, estendendo-se para os Estados de Alagoas e Ceará. Um ano após disso, o dengue propagou-se muito, tornando-se endêmico na Bahia, em Pernambuco, em Minas Gerais e em São Paulo.

Existem no mundo quatro tipos diferentes de vírus do dengue: 1, 2, 3 e 4. No Brasil, circulam apenas os tipos 1, 2 e 3. Este último foi encontrado em dezembro de 2000, e isolado, em janeiro de 2001, no Rio de Janeiro.

Cabe ressaltar que as pessoas infectadas pelo dengue (não importando o tipo de vírus) apresentam a mesma sintomatologia. Por outro lado, não há necessidade de se tentar determinar o tipo de vírus que ocasionou a doença: dengue é dengue, e todas as pessoas contaminadas sofrem dos mesmos males. E, a maneira mais eficaz de se evitar a contaminação, é através da eliminação dos insetos transmissores.

Na grande maioria dos casos, o dengue causa desconforto e transtornos físicos, mas não põe em risco a vida das pessoas. Em se tratando dos sintomas da virose, observa-se que os doentes são acometidos por febre alta, dores de cabeça e no corpo e, por vezes, vômitos. Três ou quatro dias após o início dessas manifestações, pode ocorrer pequenos sangramentos no nariz e nas gengivas, bem como pruridos e manchas vermelhas na pele, semelhantes àquelas do sarampo e da rubéola.

Em média, os sintomas melhoraram entre cinco e dez dias. Em uma minoria de casos, porém, depois que a febre começa a baixar, é possível que ocorra uma diminuição acentuada da pressão sangüínea, o que pode levar à forma mais grave da virose – o denominado dengue hemorrágico – e levar ao óbito. Esse tipo grave de dengue, ainda que bastante raro, pode ocorrer mesmo junto àqueles que adoecem pela primeira vez.

Os indivíduos se recuperam, em geral, sem maiores problemas, ficando imunizados contra o tipo de vírus (1, 2, 3 ou 4) que os contaminou. Entretanto, podem vir a ser contaminados, novamente, com os demais tipos de vírus do dengue. Explicando melhor, se alguém adquiriu o vírus tipo 3, pode ser contaminado, também, pelos vírus 1, 2 ou 4. E, por ocasião de uma segunda ou terceira contaminação, apesar de ser bem maior o risco de a doença evoluir para o dengue hemorrágico, isso não significa que a forma grave da virose deva, obrigatoriamente, vir a ter lugar.

O Aëdes aegypti está presente em cerca de 3.600 municípios brasileiros e, dependendo da existência de outros focos, os mosquitos transmissores podem propagar, inclusive, a febre amarela e a malária.

Presentemente, cerca de dois bilhões de habitantes vivem em áreas onde a transmissão do dengue pode se dar. Tais áreas de risco são as seguintes: América Central, América do Sul (exceto Chile, Paraguai e Argentina), América do Norte (México), África, Austrália, Caribe (exceto Cuba e Ilhas Caymam), China, Ilhas do Pacífico, Índia, Sudeste Asiático e Taiwan. As cifras da doença têm sido estimadas entre 50 e 100 milhões de casos por ano. Em 1995, no Continente Americano, em particular, foram notificados 250 mil casos de dengue, e 7 mil casos da forma mais grave da doença.

No Brasil, na década de 1930, a erradicação da febre amarela fez desaparecer também o dengue. Mas, a epidemia retornou ao país, chegando a atingir 570.148 casos, em 1998. Um ano depois disso, houve uma redução significativa da epidemia, que passou para 210 mil casos. No ano 2000, por outro lado, houve uma certa elevação (passou para 240 mil casos) e, em 2001, a doença atingiu a marca dos 370 mil casos. A maior parte dos doentes, vale lembrar, habitam no Nordeste do Brasil.

É importante salientar que uma pessoa não transmite o dengue diretamente para outra. Para haver contaminação, é preciso: primeiro, que o Aëdes aegypti pique alguém que esteja infectado; segundo, que o vírus do dengue se multiplique dentro do organismo do mosquito; e, terceiro, que o inseto portador do vírus pique um indivíduo são, contaminando-o dessa maneira.

No país, o combate ao dengue tem sido feito através das seguintes maneiras: a) o extermínio dos mosquitos adultos; b) a eliminação dos criadouros de larvas; e, c) investimentos em educação ambiental. Portanto, vem-se fazendo uso de inseticidas, mediante o fumacê. Este procedimento não acaba, porém, com os criadouros de larvas (as fontes principais), e precisa ser sempre repetido, para exterminar os insetos que porventura sobrevivam. Sendo assim, todos os recipientes passíveis de serem preenchidos com água – tais como as caixas d'água e cisternas - devem ser protegidos com tampas ou descartados, já que se constituem em ótimos criadouros de insetos. Por fim, o Ministério da Saúde tem investido em educação, esclarecendo a população sobre as formas de se combater o dengue no meio ambiente.

Registra-se, abaixo, algumas medidas importantes que foram difundidas para evitar a propagação do Aëdes aegypti. Deve-se, entre outros:

1. eliminar todas as plantas que vivem em vasos com água, substituindo-as por outras que vivem em vasos com terra, e manter secos os pratos coletores d´água;
2. utilizar a água tratada com cloro (40 gotas de água sanitária a 2,5% para cada litro), duas vezes por semana, para regar as plantas passíveis de acumular água, a exemplo das bromélias;
3. desobstruir, sempre, as calhas do telhado para que, nelas, não haja qualquer acúmulo d´água;
4. evitar deixar pneus, ou outros utensílios que possam acumular água, expostos à chuva;
5. manter sempre tampadas as cisternas, os filtros, os barris, e as caixas d'água; e
6. juntar o lixo em sacos plásticos fechados, ou em latões com tampas.

Ainda não existe um tratamento específico para o dengue. Quando há certeza sobre a presença da virose, recomenda-se que o doente faça uso de remédios à base de paracetamol (como o Tylenol), para aliviar a dor e a febre alta, e que faça também uma reidratação oral. Cuidados adicionais, por sua vez, devem ser tomados. Entre eles, o de evitar a ingestão de drogas que contêm o ácido acetil-salicílico (os conhecidos AAS, Aspirina ou Melhoral), uma vez que seus efeitos colaterais permitem o agravamento da doença.

Por outro lado, é interditado o uso de medicamentos à base de dipirona (como Novalgina e Dorflex) e, qualquer tipo de antiinflamatório (como Scaflan, Voltaren e Profenid), pois eles podem causar hemorragia no aparelho digestivo, além de erupções na pele, advindas de reações alérgicas.

Muito embora as pesquisas na área da saúde estejam bastante avançadas, ainda não se obteve uma vacina contra o dengue. Em áreas mais endêmicas, recomenda-se à população que use calça comprida, camisa de manga longa, e passe repelente na pele, para evitar a aproximação dos insetos transmissores.


Fontes consultadas:

O DENGUE. Súmula, Rio de Janeiro, n. 87, mar. 2002.

A SAÚDE no Brasil: avanços, impasses, retrocessos. Súmula, Rio de Janeiro, n. 86, fev. 2002.

COSTA, Eduardo de Azeredo. Histórico do dengue. Disponível em:
Acesso em: 27 fev. 2005.

MARTINS, Fernando S. V.; CASTIÑEIRAS, Terezinha M. P. P. Dengue. Disponível em:
Acesso em: 27 fev. 2005.

UFMG contra o dengue. Disponível em:
Acesso em: 27 fev. 2005.

UNICAMP sem dengue. Disponível em:
Acesso em: 27 fev. 2005.

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