segunda-feira, 18 de maio de 2009

GETÚLIO CAVALCANTI

GETÚLIO CAVALCANTI
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Segundo filho de Aluísio Holanda Cavalcanti e Marina Matias de Souza, Getúlio de Souza Cavalcanti nasceu na cidade de Camutanga, na Zona da Mata Norte, Estado de Pernambuco, no dia 10 de fevereiro de 1942. Antes dele, nasceriam Darcy (a primogênita) e, posteriormente, Aluísio Júnior. Em sua cidade natal, cursou as primeiras quatro séries do ensino fundamental nas escolas Típica Rural e Manoel Guedes, sendo transferido, depois, para o Ginásio Timbaubense, onde permaneceu interno para poder concluir o curso ginasial. Em 1957, ele veio morar no Recife, onde cursou o ensino médio no então Colégio Padre Félix, no bairro da Boa Vista.

Ainda adolescente, Getúlio participaria de muitas serenatas e serestas sob o luar de Camutanga, que marcaram substancialmente toda a sua obra poético-musical. Ao iniciar as suas atividades laborais no Recife, o compositor ajudaria o pai em seu estabelecimento comercial e, depois, exerceria a função de encarregado de depósito no Diario de Pernambuco.

Em 1966, Getúlio casa com Rosileide Loyo (carinhosamente chamada de Rose) e, dessa união, nascem Hélio (em 1967), Ângelo (em 1969), Alessandra (em 1971) e Cassius (em 1974). Em 1970, o compositor conclui o curso de Administração de Empresas, na Universidade Federal de Pernambuco, mas nunca se preocupou em receber o diploma.

Compor, cantar e interpretar músicas representa um hobby que Getúlio possui desde a adolescência. Porém, como artista propriamente dito, iniciou no ano de 1962, cantando na extinta Rádio Clube de Pernambuco. Nesse mesmo ano, ele criaria o frevo-canção Você gostou de mim, que a fábrica Rozemblit gravou em forma de LP, no mesmo ano. Vale salientar, também, que o talentoso compositor trabalhou durante 18 anos na International Business Machine (IBM), empresa da qual se aposentou; e que, há 11 anos, se tornou um empresário no ramo da informática.

De 1962 em diante, Getúlio compôs e gravou muitas músicas de grande sucesso, a exemplo de: O bom Sebastião (frevo-de-bloco, 1975); Antônio Maria (frevo-de-bloco, 1976); Clube do limão (frevo-canção, 1977); Boi castanho (frevo-de-bloco, 1978); Sete anos de saudade (frevo-de-bloco, 1979); Recado a Capiba (frevo-canção, 1980); Último regresso (frevo-de-bloco, 1981); Cantigas de roda (frevo-de-bloco, 1982); Freviocando (frevo-canção, 1983); O frevo tá na praça (frevo-canção, 1984); Tributo a Faustino (frevo-de-bloco, 1985); Chora batutas (frevo-de-bloco, 1986); Um amor a mais (frevo-de-bloco, 1987); Agonia de um bloco (frevo-de-bloco, 1988); No pequeno olhar e Tributo a Bajado (frevos-de-bloco, 1990); Escuta boêmio e Cadê o apito (frevos-de-bloco, 1991); Sai pra lá baiano (frevo-canção, 1992); Relembrando Moysés (frevo-de-bloco, 1993); Cheirando a motel (frevo-canção, 1994); Revendo Olinda (frevo-de-bloco, 1995); Maré me leva (frevo-canção, 1995); Depois de banhistas (frevo-de-bloco, 1996); Bloco das Flores (frevo-de-bloco), Madrigal (frevo-de-bloco); Ilusão fatal (frevo-de-bloco); Urso safado (frevo-canção); Segurando o talo (samba-canção); Cinco anos de ilusões (frevo-de-bloco); Blocos da minha vida (frevo-de-bloco); Aurora dos carnavais (frevo-de-bloco); Estrela guia (frevo-de-bloco); Perseguidor (frevo-de-bloco); De volta ao Chantecler (frevo-canção); Velho coração (frevo-de-bloco), e outros.

Ele compôs ainda em outros gêneros musicais, tais como baiões, baladas, marchas-rancho, sambas, maracatus, sambas-canção, toadas, rocks e boleros. Suas composições são as seguintes: Estranho amor, Meu pé de macarrão, Violação, Badia, Ave Maria nordestina, O mensageiro, É tarde, Estrada de verdade, Cantiga de quem vive só, Por amor ao Recife, Hoje tem galo, O frevo ta na praça, Vovó Severina, Eu acho é pouco, Doce com queijo, Por paixão, Teorias, A dona daquele sorriso, Perdão, Ao mestre, com saudade, Quero ser o seu amor, Pêlo de cana, Estrela-guia, Pelas ruas de Olinda, Foi o galo que passou em minha rua, Braços abertos, Paixão medrosa, Dá licença Recife, A mais de mil, Lá vem meu bloco azul, Casa de camelo, Solteirão, Um amor a mais, Nelson Ferreira, Meu pastoril, Um ano depois, Bloco para um poeta, Velho bandolim, Quando as ilusões regressam e Salve, salve Emiliano .

Vencedor de vários concursos de músicas carnavalescas, as composições musicais de Getúlio foram gravadas por vários cantores e conjuntos brasileiros renomados, tais como o Coral Banhistas do Pina, o Coral Mocambo, o Maestro Zezinho e a Banda Capibaribe, a Orquestra de José Menezes e o Coral de Joab, o Conjunto Romançal, as Pastoras do Boi Castanho, o Coral Bloco da Saudade, o Coral Bloco das Ilusões, a Banda de Pau e Corda, a Turma do Pingüim, o Coral Frevança, o Coral Vitória Régia, Guedes Peixoto/orquestra e coral, Claudionor Germano, Noite Ilustrada, André Rio, Nando Cordel, Leonardo, Altemar Dutra, Antônio Nóbrega, Têca Calazans, Alessandra (sua filha), e outros. Em 1987, gravou algumas músicas pela Fundação Joaquim Nabuco, através de um LP da série “Compositores Pernambucanos”.

Ao ser entrevistado pela autora do presente trabalho, o compositor deixaria registrado que, um dos seus maiores sonhos, era o de poder vivenciar a valorização dos compositores pernambucanos, por parte das autoridades e das entidades que atuam em prol da divulgação cultural. A esse respeito, ele lembrou o incidente ocorrido durante o Baile Municipal do Recife, no carnaval de 2005, quando o prefeito da cidade contratou Elza Soares para cantar, ao invés de valorizar e trazer os compositores e intérpretes pernambucanos e/ou nordestinos, e o público presente, como forma de protesto, vaiou a famosa cantora, que não possuía qualquer relação com músicas carnavalescas.

São da autoria de Getúlio as nove músicas que compõem, hoje, o repertório do Bloco da Saudade: Último regresso, O bom Sebastião, Cantigas de roda, Chora Batutas, Relembrando Moysés, Os blocos estão voltando, Tributo a Bajado, Adeus saudade e Salve, salve Emiliano.

Como a grande maioria dos compositores pernambucanos - como Capiba, José Menezes, Alírio Moraes, Antônio Maria e Nelson Ferreira - Getúlio nunca conseguiu sobreviver dos ganhos advindos dos direitos autorais. Quando recebe alguma importância financeira, esta é pequena e chega às mãos do artista quatro meses depois da divulgação da música, através da União Brasileira dos Compositores (UBC), uma empresa arrecadadora à qual está vinculado.

Cabe ressaltar que um livro do compositor, intitulado “Por quem os blocos cantam?”, uma espécie de autobiografia que ele escreveu durante 20 anos, foi lançado recentemente em São Paulo, pela Editora Vitale.

Um dos maiores sucessos musicais de Getúlio é o frevo-de-bloco Último regresso, cuja letra é apresentada a seguir.

Falam tanto que meu bloco está
Dando adeus prá nunca mais sair
E depois que ele desfilar
Do seu povo vai se despedir
No regresso de não mais voltar
Suas pastoras vão pedir
Não deixem não
Que um bloco campeão
Guarde no peito a dor de não cantar
Um bloco a mais
É o sonho que se faz
Nos pastoris da vida singular
É lindo ver o dia amanhecer
Com violões e pastorinhas mil
Dizendo bem
Que o Recife tem
O carnaval melhor do meu Brasil.

O poeta e compositor Getúlio Cavalcanti, ao mesmo tempo em que prima pela simplicidade, possui um enorme talento, carisma e inteligência. Através da beleza e da simplicidade dos seus versos, ele vem abrilhantando sempre o carnaval, ao mesmo tempo em que deixa um legado inestimável para a cultura do País, e mais especificamente para o carnaval de Pernambuco, que representa, sem dúvida alguma, a festa mais popular de todo o Brasil.

Fontes consultadas:

BARRETO, José Ricardo Paes. Getúlio Cavalcanti: o menestrel do frevo-de-bloco. Recife: Cia. Pacífica, 2000.

______; PEREIRA, Margarida M. de Souza; GOMES, Maria J. Pereira. Dicionário dos compositores carnavalescos pernambucanos. Recife: Cia. Pacífica, 2001.

GETÚLIO Cavalcanti: 40 anos de carnaval. Recife: [s. n], [19--]. (Série nossos valores).

GETÚLIO Cavalcanti. Disponível em:
Acesso em: 18 fev. 2005.

GETÚLIO Cavalcanti. Disponível em:
Acesso em: 18 fev. 2005.

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