Gilberto Passos Gil Moreira nasceu no dia 26 de junho de 1942, na cidade de Salvador, Estado da Bahia, e, com apenas três semanas de idade, foi morar na cidade de Ituaçu, no interior do Estado. Lá, junto à família, ele passaria a infância. Fascinado pelos sanfoneiros, cantores e violeiros locais, aos três anos de idade o menino teve sua vocação musical despertada e, aos dez anos, foi estudar em Salvador, aprendendo também a tocar acordeom e sanfona.
Os ritmos e estilos musicais repercutiam com muita intensidade no jovem Gilberto Gil. Por sua cabeça passaram os acordes das bandas de pífano de Caruaru, os sons do violão de João Gilberto, a sanfona de Luiz Gonzaga, as músicas dos Beatles e outros. Todos esses elementos contribuíram para o surgimento do Movimento Tropicalista, liderado por Gil e Caetano Velloso nos anos 1960, com as músicas Domingo no parque e Alegria, alegria. Naquele mesmo ano, por sua vez, o compositor decidiu fazer o curso de Administração de Empresas, ingressando na Universidade Federal da Bahia.
Em 1963, inspirado em João Gilberto - um dos mais conceituados intérpretes e violonistas da música brasileira nos anos 1950 - ele compunha o samba bossa nova Felicidade vem depois, passando, também, a tocar violão. E, em junho do ano seguinte, com Tom Zé, Gal Costa e Maria Bethânia, participaria de espetáculos antológicos em Salvador, inaugurando, através de um deles, o Teatro Vila Velha. Isto representou, para Gil, um marco muito importante porque, além de cantar e apresentar composições próprias, ele assinava, inclusive, a direção musical do show.
Quando já estava radicado na cidade de São Paulo, em 1965, ele compôs as músicas Procissão e Roda e, em 1966, a música Louvação, que deu nome ao seu primeiro disco. Nesse mesmo ano, várias conquistas relevantes ocorreram na vida do então funcionário da alfândega de Salvador: ele realizou seu primeiro show individual (dirigido por Caetano), terminou o curso universitário, casou, foi morar em São Paulo, e empregou-se na Gessy Lever. Na época, também começou a se destacar na televisão, com o programa O fino da bossa, comandado por Elis Regina. E, tamanho foi o sucesso obtido que, demitindo-se da empresa em que trabalhava, o compositor baiano decidiu viver só de música.
Em 1967, Gil compunha a música Bom dia, em parceria com Nana Caymmi, para apresentar no III Festival da Música Popular Brasileira (MPB). No ano seguinte, gravava o disco Tropicália, em parceria com Caetano.
No final de 1968, durante o Governo Médici, duas semanas após a assinatura do Ato Institucional nº 5, que causou o acirramento da Ditadura Militar e das perseguições políticas, o compositor seria preso em São Paulo, sob a acusação de desrespeitar a bandeira e o hino brasileiros, e levado para o quartel do Exército de Marechal Deodoro. Caetano também iria preso com ele.
Libertado do cárcere, em fevereiro de 1969, Gil ficou proibido de se apresentar ou dar qualquer declaração em público. Na Bahia, cinco meses depois, ele ainda participou de um espetáculo de despedida, no Teatro Castro Alves, juntamente com Caetano, que deu origem ao álbum Barra 69. E compôs a música Aquele abraço. Contudo, diante das inúmeras proibições e perseguições sofridas, ele decidiu partir para a Inglaterra, exilando-se com a esposa (Sandra Gadelha) no bairro de Chelsea, em Londres. Na época, coincidentemente, casado com Dedé Gadelha (cunhada de Gil), Caetano iria morar no mesmo bairro londrino. Enquanto isso, o Movimento Tropicalista brasileiro era sepultado pela Ditadura Militar.
Gilberto Gil viveu no exílio de 1969 a 1972. Neste ano, de volta ao País, ele lançava o disco Expresso 2222; e, quatro anos após, gravava Doces bárbaros, com Caetano, Maria Bethânia e Gal Costa.
O compositor ingressou na política em 1988, tendo sido eleito vereador de Salvador pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Durante a vigência do seu mandato, foi criada a Fundação Onda Azul, voltada para o desenvolvimento de ações em prol da preservação ambiental. Ao final do seu mandato, entretanto, ele não quis disputar uma nova eleição. Naquele ano, Gil ganhava o prêmio Grammy, na categoria de melhor disco de World Music e, no ano 2000, tirava a poeira do acordeom para gravar a trilha sonora do filme Eu, Tu, Eles, cuja música Esperando na Janela tornou-se um grande sucesso.
Através dos anos, o compositor se envolvia ativamente em projetos sociais e ecológicos, tornando-se o porta-voz do movimento de consciência da raça negra que se organizava no País. Por seu incansável trabalho, o Governo francês o homenageou com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e da Literatura. Ele foi o primeiro artista baiano agraciado com o título Artista da Unesco pela Paz, um reconhecimento desta entidade às personalidades que mais se destacam na promoção da cultura em favor da paz. Além disso, em dezembro de 2002, o recém-eleito presidente Luís Inácio Lula da Silva o nomearia Ministro da Cultura do Brasil.
Algumas das composições mais conhecidas de Gilberto Gil são: Procissão; Expresso 2222; Estrela; Louvação; Se eu quiser falar com Deus; Eu vim da Bahia; Sítio do Pica-pau-amarelo; Back in Bahia; Oriente; Pai e mãe; Tradição; Soy loco por ti, América; O sonho acabou; Meu amigo, meu herói; Rebento; Sarará miolo; Refavela; Logun Edé; Realce; Filhos de Gandhi; Domingo no parque; Feiticeira; Aquele abraço; Iansã; Geléia geral; Pra ver o sol nascer; Eu preciso aprender a ser só; Ela; Super Homem; Refazenda; Drão; Lugar comum; Mar de Copacabana; A linha e o linho; Mancada; Lunik 9; As pegadas do amor; Pessoa nefasta; Com que roupa; Cálice; Frevo rasgado; Sandra; Chicletes com banana; Dinamarca; Viramundo; Lamento sertanejo e Trovoada.
Há décadas, pesquisando, compondo e cantando suas músicas de um modo único e brasileiríssimo, privilegiando a cultura negra, o misticismo e a natureza, Gilberto Gil é considerado um dos maiores expoentes da MPB.
Transcreve-se, abaixo, a letra da música Procissão, um dos seus primeiros sucessos:
Olha, lá vai passando a procissão,
Se arrastando que nem cobra pelo chão,
As pessoas que nela vão passando,
Acreditam nas coisas lá do céu,
As mulheres cantando tiram versos,
Os homens escutando tiram o chapéu,
Eles vivem penando aqui na Terra,
Esperando o que Jesus prometeu.
E Jesus prometeu coisa melhor
Pra quem vive nesse mundo sem amor,
Só depois de entregar o corpo ao chão,
Só depois de morrer neste sertão,
Eu também tô do lado de Jesus,
Só que acho que ele se esqueceu,
De dizer que na Terra a gente tem,
De arranjar um jeitinho pra viver.
Muita gente se arvora a ser Deus,
E promete tanta coisa pro sertão,
Que vai dar um vestido pra Maria,
E promete um roçado pro João;
Entra ano, sai ano, e nada vem,
Meu sertão continua ao Deus-dará,
Mas se existe Jesus no firmamento,
Cá na Terra isso tem que se acabar.
Fontes consultadas:
Os ritmos e estilos musicais repercutiam com muita intensidade no jovem Gilberto Gil. Por sua cabeça passaram os acordes das bandas de pífano de Caruaru, os sons do violão de João Gilberto, a sanfona de Luiz Gonzaga, as músicas dos Beatles e outros. Todos esses elementos contribuíram para o surgimento do Movimento Tropicalista, liderado por Gil e Caetano Velloso nos anos 1960, com as músicas Domingo no parque e Alegria, alegria. Naquele mesmo ano, por sua vez, o compositor decidiu fazer o curso de Administração de Empresas, ingressando na Universidade Federal da Bahia.
Em 1963, inspirado em João Gilberto - um dos mais conceituados intérpretes e violonistas da música brasileira nos anos 1950 - ele compunha o samba bossa nova Felicidade vem depois, passando, também, a tocar violão. E, em junho do ano seguinte, com Tom Zé, Gal Costa e Maria Bethânia, participaria de espetáculos antológicos em Salvador, inaugurando, através de um deles, o Teatro Vila Velha. Isto representou, para Gil, um marco muito importante porque, além de cantar e apresentar composições próprias, ele assinava, inclusive, a direção musical do show.
Quando já estava radicado na cidade de São Paulo, em 1965, ele compôs as músicas Procissão e Roda e, em 1966, a música Louvação, que deu nome ao seu primeiro disco. Nesse mesmo ano, várias conquistas relevantes ocorreram na vida do então funcionário da alfândega de Salvador: ele realizou seu primeiro show individual (dirigido por Caetano), terminou o curso universitário, casou, foi morar em São Paulo, e empregou-se na Gessy Lever. Na época, também começou a se destacar na televisão, com o programa O fino da bossa, comandado por Elis Regina. E, tamanho foi o sucesso obtido que, demitindo-se da empresa em que trabalhava, o compositor baiano decidiu viver só de música.
Em 1967, Gil compunha a música Bom dia, em parceria com Nana Caymmi, para apresentar no III Festival da Música Popular Brasileira (MPB). No ano seguinte, gravava o disco Tropicália, em parceria com Caetano.
No final de 1968, durante o Governo Médici, duas semanas após a assinatura do Ato Institucional nº 5, que causou o acirramento da Ditadura Militar e das perseguições políticas, o compositor seria preso em São Paulo, sob a acusação de desrespeitar a bandeira e o hino brasileiros, e levado para o quartel do Exército de Marechal Deodoro. Caetano também iria preso com ele.
Libertado do cárcere, em fevereiro de 1969, Gil ficou proibido de se apresentar ou dar qualquer declaração em público. Na Bahia, cinco meses depois, ele ainda participou de um espetáculo de despedida, no Teatro Castro Alves, juntamente com Caetano, que deu origem ao álbum Barra 69. E compôs a música Aquele abraço. Contudo, diante das inúmeras proibições e perseguições sofridas, ele decidiu partir para a Inglaterra, exilando-se com a esposa (Sandra Gadelha) no bairro de Chelsea, em Londres. Na época, coincidentemente, casado com Dedé Gadelha (cunhada de Gil), Caetano iria morar no mesmo bairro londrino. Enquanto isso, o Movimento Tropicalista brasileiro era sepultado pela Ditadura Militar.
Gilberto Gil viveu no exílio de 1969 a 1972. Neste ano, de volta ao País, ele lançava o disco Expresso 2222; e, quatro anos após, gravava Doces bárbaros, com Caetano, Maria Bethânia e Gal Costa.
O compositor ingressou na política em 1988, tendo sido eleito vereador de Salvador pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Durante a vigência do seu mandato, foi criada a Fundação Onda Azul, voltada para o desenvolvimento de ações em prol da preservação ambiental. Ao final do seu mandato, entretanto, ele não quis disputar uma nova eleição. Naquele ano, Gil ganhava o prêmio Grammy, na categoria de melhor disco de World Music e, no ano 2000, tirava a poeira do acordeom para gravar a trilha sonora do filme Eu, Tu, Eles, cuja música Esperando na Janela tornou-se um grande sucesso.
Através dos anos, o compositor se envolvia ativamente em projetos sociais e ecológicos, tornando-se o porta-voz do movimento de consciência da raça negra que se organizava no País. Por seu incansável trabalho, o Governo francês o homenageou com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e da Literatura. Ele foi o primeiro artista baiano agraciado com o título Artista da Unesco pela Paz, um reconhecimento desta entidade às personalidades que mais se destacam na promoção da cultura em favor da paz. Além disso, em dezembro de 2002, o recém-eleito presidente Luís Inácio Lula da Silva o nomearia Ministro da Cultura do Brasil.
Algumas das composições mais conhecidas de Gilberto Gil são: Procissão; Expresso 2222; Estrela; Louvação; Se eu quiser falar com Deus; Eu vim da Bahia; Sítio do Pica-pau-amarelo; Back in Bahia; Oriente; Pai e mãe; Tradição; Soy loco por ti, América; O sonho acabou; Meu amigo, meu herói; Rebento; Sarará miolo; Refavela; Logun Edé; Realce; Filhos de Gandhi; Domingo no parque; Feiticeira; Aquele abraço; Iansã; Geléia geral; Pra ver o sol nascer; Eu preciso aprender a ser só; Ela; Super Homem; Refazenda; Drão; Lugar comum; Mar de Copacabana; A linha e o linho; Mancada; Lunik 9; As pegadas do amor; Pessoa nefasta; Com que roupa; Cálice; Frevo rasgado; Sandra; Chicletes com banana; Dinamarca; Viramundo; Lamento sertanejo e Trovoada.
Há décadas, pesquisando, compondo e cantando suas músicas de um modo único e brasileiríssimo, privilegiando a cultura negra, o misticismo e a natureza, Gilberto Gil é considerado um dos maiores expoentes da MPB.
Transcreve-se, abaixo, a letra da música Procissão, um dos seus primeiros sucessos:
Olha, lá vai passando a procissão,
Se arrastando que nem cobra pelo chão,
As pessoas que nela vão passando,
Acreditam nas coisas lá do céu,
As mulheres cantando tiram versos,
Os homens escutando tiram o chapéu,
Eles vivem penando aqui na Terra,
Esperando o que Jesus prometeu.
E Jesus prometeu coisa melhor
Pra quem vive nesse mundo sem amor,
Só depois de entregar o corpo ao chão,
Só depois de morrer neste sertão,
Eu também tô do lado de Jesus,
Só que acho que ele se esqueceu,
De dizer que na Terra a gente tem,
De arranjar um jeitinho pra viver.
Muita gente se arvora a ser Deus,
E promete tanta coisa pro sertão,
Que vai dar um vestido pra Maria,
E promete um roçado pro João;
Entra ano, sai ano, e nada vem,
Meu sertão continua ao Deus-dará,
Mas se existe Jesus no firmamento,
Cá na Terra isso tem que se acabar.
Fontes consultadas:
GILBERTO Gil. Disponível em:
BIOGRAFIA de Gilberto Gil. Disponível em:
FONSECA, Herbert. Caetano, esse cara. Rio de Janeiro: Revan, 1993.
GILBERTO GIL. Disponível em:
GILBERTO Gil. Disponível em:
GILBERTO Gil. Disponível em:
GILBERTO Gil. Disponível em:
INDICE geral das músicas no MPBNet. Disponível em:
LETRAS de músicas. Disponível em:
LETRAS de músicas. Disponível em:
MORAES NETO, Geneton. A receita secreta do tropicalismo: uma mistura de Caruaru com Liverpool. Continente Multicultural, Recife, ano 1, n. 11, p. 6-15, nov. 2001.
NAVES, Santuza C. Da bossa nova à tropicália: contenção e excesso na música popular. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 15, n. 43, p. 35-44, jun. 2000.
RODRIGUES, Joana. Gil chora muitas lágrimas na visita a Pernambuco em que o compositor descobriu a banda de pífanos e reencontrou um momento de sua infância. Continente Multicultural, Recife, ano 1, n. 11, p. 16-18, nov. 2001.
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